La Olla mais branda do que anunciavam os deuses

Custou todas as moedas da guaiaca azulgrana ter desperdiçado a chance de eliminar o Santos no penúltimo jogo da primeira fase, quando perdeu em casa por 2 a 1. Pois este mesmo time ALBO da Vila Belmiro, agora reestruturado e com um técnico tão cabeça dura que nem pedrada é capaz de derrubar, eliminou los once de Astrada e avançou galopante para a grande decisão copera, aguardando que Vélez ou Peñarol se engalfinhem hoje à noite em Liniers.

O placar final de 3 a 3 pode sugerir que em algum momento da noite o Cerro Porteño esteve próximo da classificação, o que não pode ser ELUCUBRADO mesmo que se analise o DNA de cada capim do La Olla. O clima de fervura azulgrana pairava na noite de Assunção, mas acabou miseravelmente abortado quando, logo aos dois minutos, Zé Eduardo abriu o placar, desviando cobrança de falta de cabeça.

O time de Muricy Ramalho jogava com uma rapidez esfuziante, com Neymar e Zé Eduardo abertos nas pontas e constantemente acionados por Elano e Arouca, os POSSEIROS da meia-cancha. Do outro lado, o Ciclón primava pelo desequilíbrio. Enquanto o ataque movimentava-se e trocava passes lépidos, com Fabbro e Iturbe (que entrou logo a dez minutos, no lugar de Torres) a defesa atrapalhava-se mesmo nas mais simples saídas de jogo.

Até o arqueiro Barreto entrou no baile guaraní e espanou para dentro do gol um recuo de bola que provavelmente nem teria a direção do gol. O 2 a 0 abaixou definitivamente a intensidade do fogo em La Olla. Se antes da partida a impressão era que os santistas sapateariam num braseiro, agora a chama era de uma CANDURA imprópria para a tão aguardada TOSTAGEM do peixe.

O gol de cabeça de Cesar Benitez ainda fez renascer a expectativa, mas justamente quando os azulgranas buscavam o empate que os traria de volta à contenda, o Santos aniquilou qualquer ameaça. A bagunça no setor defensivo cerrista era tão DRAMÁTICA que aos 46 minutos Arouca troteou por uns 170 metros sem qualquer sombra de marcação e tocou para Neymar anotar o terceiro.

Na segunda etapa, o Santos praticamente ABDICOU de qualquer ambição ofensiva e ENCALACROU-SE na toca como um tatu perseguido por dezoito pares de caninos brilhantes. Então, de fato, o Cerro promoveu um atraque às vergonhas santistas, com algumas participações individuais destacadas, como Lucero, Julio do Santos, Fabbro e Piris, que a todo momento era acionado na lateral-direita, por onde infiltrava-se com a sabedoria dos répteis área adentro.

A possibilidade de classificação azulgrana tinha a consistência de uma FATA MORGANA resplandescente no enorme deserto de sonhos que havia se transformado o La Olla, mas o empate – com golaços de Lucero e Fabbro – ao menos devolveu a dignidade aos jogadores comandados pelo pilantra y enganador Astrada. Nada, no entanto, que desfaça na boca o fulminante amargor de se despedir da sua 32ª participação em Libertadores sem nenhuma participação em final, e tendo que olhar para o lado e observar como quem não quer ver as três taças empilhadas pelo rival Olimpia.

O Santos disputa sua quarta final de Libertadores, com dois títulos em 1962 e 1963 e um talagaço mal digerido contra o Boca Juniors, em 2003. Observará com atenção estudantil o embate entre Vélez Sarsfield e Peñarol. Os argentinos são superiores tecnicamente, mas não se aproximam da squadra xeneize comandada por Bianchi. O Peñarol não é sequer um pálido reflexo daquele batido em 1962, mas a vontade de vencer, e se preciso fazê-lo moendo ossos, só aumentou com o decorrer das décadas.

Saudações,
Douglas Ceconello.