Confesso que sequei – o Fluminense

Um lado triste de eu ter existido os primeiros 7 anos de minha existência em Mandaguari, Paraná, é PRATICAMENTE não ter vivido na pele minhas primeiras EMOÇÕES enquanto torcedor – fossem prós ou contras. Foi somente após meus pais retornarem ao Rio de Janeiro, onde haviam se conhecido, que o Flamengo se tornou VERDADEIRAMENTE parte integrante do meu CARÁTER.

Ocorre que eu não nasci esse flamenguista capaz de se MAGOAR com as transmissões dos jogos, isso foi sendo ADQUIRIDO, meus amores. Fruto do tempo, da convivência, das derrotas do meu time servindo de RISO FÁCIL nas faces daqueles que se diziam amigos. Isso despertou o MONSTRO e com ele, inevitável desejo de VINGANÇA, de escárnio, de tragédias.

Pois bem, sendo eu um flamenguista, para desgosto de minha mãe BOTAFOGUENSE, tive uma razão pra tomar mais ranço do Fluminense do que dos demais. Foi quando eu, ainda pequeno, fui alvo dos GRACEJOS de uma coleguinha de infância de Mandaguari que, diabos, era tricolor. O ano era 1984 e aquele time LAZARENTO havia se sagrado campeão nacional. Juro pra vocês, até ser provocado INFANTILMENTE, futebol era pra mim algo distante como a China. De certa forma, aqueles chistes – duraram DIAS – despertaram dentro de mim o desejo de que o FLUZÃO jamais fosse capaz de nada que não derrotas.

Mais tarde, comprovei que as derrotas para o Fluminense de fato seriam tão ESPECIAIS quanto as vitórias sobre os mesmos. Nada mais natural, todos sabemos (ah, vocês não sabem, IGNORANTES?) que Flamengo e Fluminense são praticamente irmãos BASTARDOS. Por falar nisso, meu caçula, que não é bastardo, é TRICOLOR.

Mas chega de nhenhenhém. Vamos à secação.

5 – Fluminense 1×1 Botafogo – 1996 (18/08/1996)

O jogo valia pelo Brasileirão do corrente ano, mas não era nada demais. Lembro que meus pais haviam se mudado para o bairro do Méier e que agora eu teria meus dois primos como praticamente vizinhos. O Méier se situa a cerca de 20 minutos de BUSUM do Maracá e esse episódio marcou como sendo a primeira vez que fui ao Mário Filho efetivamente para ver um MATCH. Óquei, admito, em 1996, Fluminense e Botafogo eram dois times de AMARGAR, mas eram os times de cada um dos dois primos, que me fizeram o convite.

Chegando no estádio, tive que me decidir pra qual torcida iria e optei pelo lado tricolor. Eles contavam com peças do NAIPE de Wellerson, Uidemar, Lima e o INOLVIDÁVEL atacante BARATA no banco de reservas. Tudo bem, o Botafogo vinha de GROTTO na zaga e Otacílio na meia cancha.

Foi uma delícia ver como o ARQUI-RIVAL penava em campo, assistir de CORPO PRESENTE à torcida clamar por Barata no segundo tempo (“Ô, lelê! Ô, lalá! Barata vem aí! O bicho vai pegar!”) e especialmente estar em meio àquela ducha que foi o gol de empate de Túlio MARAVILHA na etapa final. Quis vibrar, mas, óbvio, não pude. De certa forma, ninguém ali havia vencido o jogo – somente EU, é claro.

4 – Fluminense 3×1 Boca Jrs – semifinal da Liberta de 2008 (04/06/2008)

O Fluminense JAMAIS poderia sagrar-se campeão da Libertadores de 2008, senhoras e senhores. Nós, rubro-negros ELIMINADOS da mesma competição sob a égide de um VEXAME, nunca iríamos permitir. Portanto, logo após ter dado um FIM no trotar são-paulino da competição, nossas esperanças em relação à turma de Laranjeiras eram de que eles veriam a coisa PRETA diante do Boca – ah, se não veriam!

O primeiro jogo havia sido um indigesto (para mim) 2×2 que criava aquela TENSÃO de tornar possível o HORROR: a classificação tricolor para as finais. Era chegada a hora de SECAR aqueles onze desmamados operários do MAL que estavam a serviço do Flu!

Postei-me diante da tevê TRAVESTIDO de Xeneize e pus-me a vibrar como se fosse um boludo nativo de CÓRDOBA. Logo no comecinho da segunda etapa, el grán Martin Palermo hecho el crímen em favor de la hinchada bocuda. Parecia que em coisa de minutos, o Universo voltaria à sua expansão eterna e natural, mas, não, NÃO, N Ã O! Em coisa de minutos o Fluminense ESPINAFROU o Boca diante de MILHÕES de tricolores ensandecidos no Maracanã e foi como se cada UM daqueles sujeitos e sujeitas me ligasse no celular pra dizer que ESTAVA COMENDO A MINHA MULHER.

Foi HORRÍVEL.

3 – Todo o Brasileirão de 1997

Em 1996, o Fluminense havia sido REBAIXADO. Porém, na hora da vaca ir pro brejo, seus dirigentes VENDERAM AS ALMAS AO SETE-PELE e asseguraram uma virada de mesa gatinha, possibilitando ao clube verde-branco-e-grená jogar na SURDINA o Brasileirão de 97 entre os ELEITOS.

Antes tivessem tido a HOMBIDADE de admitir o fracasso. Diante da infâmia, não apenas eu, mas todo brasileiro DIGNO secou o Fluzão em 97, que não nos decepcionou! De tropeço em tropeço, tiveram a fatal RECAÍDA, obtendo um ESPLÊNDIDO bi-rebaixamento. A cada derrotinha e empate dentro de casa, este que vos fala CAÇAVA torcedores infelizes da agremiação multicor para disparates e quetais.

E de pensar que o buraco ainda estava BEM mais embaixo. Bons tempos.

2 – Figueirense 0x1 Fluminense – final Copa do Brasil 2007 (06/06/2007)

Confesso que IGNOREI de maneira solene quase a totalidade da edição de 2007 da Copa do Brasil, até porque o meu ESQUADRÃO havia faturado no ano anterior o pacote da CVC para viajar pela América do Sul com o direito de jogar a Libertadores que era o brinde que vinha junto do troféu da competição.

Mas aí veio a notícia de que o Fluminense – logo QUEM – estava nas finais do certame, que teve a glória de CAUSAR o entrevero Botafogo x Ana Paula Oliveira nas semis, levando a bandeirinha a se desnudar para mostrar a TODOS que ela era moça PURA, sem máculas, sem NADA a esconder sob o céu e sobre os girassóis.

Uma vez na final, o Fluminense despertou aqueles meus PENSAMENTOS MAUS (BEN; Jorge, in A Tábua de Esmeraldas). No jogo de ida no Rio, o empate em 1×1 deu aquele REFRESCO de esperança de que, ao rufar dos tambores, os MAGANOS cheios de pó-de-arroz nas idéias iriam se estrepar. Mas a minha empáfia em achar que a coisa já estava encaminhada para o Figueira disputar a Libertadores 2008 acabou por facilitar as coisas para o lado deles – sequer me dei ao prazer de ver o jogo para SECAR como se deve.

Fez-se a MISÉRIA: Fluminense campeão do torneio que o Flamengo havia conquistado um ano antes e classificado para a competição da qual o mesmo Flamengo havia sido ELIMINADO nas oitavas menos de um mês antes.

1- Fluminense 3×1 LDU (Flu 2×4 LDU nos penais) – final da Libertadores 2008 (02/07/2009)

Se a classificação para as finais do torneio CONTINENTAL já me parecia algo além do RAZOÁVEL, ver os BASTARDOS se abraçarem ao troféu que não possuíamos desde um longínquo 1981 era o CAOS. Aí, não, meu CAMARADA.

SECAR era uma ordem a todo rubro-negro vivo e ciente de suas razões. Porque todos sabemos, o papinho de “Outro time que não o teu é o BRASIL na Libertadores” pode até ficar legalzinho enquanto JINGLE televisivo, mas não entra nos corações de quem sorve o AMARGOR da vitória alheia, também conhecida como SUA DERROTA.

Se ELES vencessem, eu PERDERIA.

Então me AGARREI na fé completamente cega e DESPROVIDA de sentido e bom-senso de torcer durante 15 dias para VITÓRIA FINAL da LDU, como se o escrete de Cevallos, Bolaños, Manso, GUERRÓN e grande elenco fossem as Forças Aliadas descendo de pára-quedas sobre a Normandia e do sucesso de tal empreitada dependesse o DESTINO da civilização ocidental. E torcer para a LDU, mesmo em seus dias de fama e flauta, não é tarefa das mais fáceis. Eu dependia do vigor mágico e obscuro do futebol EQUATORIANO! Foram dias terríveis, dramáticos, de pouco sono e pensamentos DESARRAZOADOS. No jogo final, o Fluminense diante de sua torcida parecia apenas prolongar a minha sina de ter que ADMITIR que enfim, eles haviam conseguido.

Mas eles não conseguiram. Acabaram-se os 90 minutos regulamentares, acabaram-se os dois tempos de prorrogação e aquele fatal TENTO tricolor não deu o ar de sua graça. Teríamos a disputa de pênaltis. E nela, BRILHOU a estrela de Cevallos, arqueiro da LDU, santo padroeiro da alegria flamenga naquela Libertadores de 2008.

Foi impossível não RIR freneticamente sozinho em casa madrugada adentro. Eu trocava de canais esportivos à busca de declarações e imagens. Foi a ÚNICA oportunidade em que liguei para um amigo VASCAÍNO no Rio para comemorarmos um resultado de futebol.

Televisões ligadas, celulares em ação, NOS UNIMOS NA ALEGRIA de ver o Fluminense no chão. Só os SECADORES são felizes.

Contribuição enviada por Leandro Godinho, um secador fervoroso.