As certezas e as dúvidas azuis

Que o grupo do Grêmio não seria ameaçador às suas pretensões de classificação, todos sabíamos desde antes de o próprio tricolor confirmar o segundo lugar no Campeonato Brasileiro. As expectativas, com o andar da carruagem, foram todas confirmadas. À exceção da estreia, um verdadeiro crime, o time da Azenha venceu todas as partidas seguintes de sua chave na Libertadores, conseguindo não apenas a classificação e a ponta com uma rodada de antecipação, como a própria liderança geral da fase de grupos, que lhe garante a possibilidade de decidir todos os mata-matas no Olímpico de agora em diante.

É complicado, porém, estabelecer parâmetros. Universidad de Chile e Boyacá Chicó não são piores que a maioria dos times desta fase inicial da Copa. Estão na média. Não diferem muito de Deportivo Cuenca, Defensor, Independiente Medellín e Deportivo Quito, e muitos outros até de mais nome. Mesmo assim, estes dois adversários reais que o Grêmio teve na primeira fase ainda não são padrões confiáveis para a exigência maior que o tricolor terá nas fases eliminatórias. O Cruzeiro, por exemplo, pegou o Estudiantes; o Palmeiras teve o Sport e o Colo Colo, que não é muito melhor que La U, mas tem alguns jogadores diferenciados do meio para a frente. O tricolor teve a sorte de não ter um adversário à sua altura no grupo e, além disso, contou com um saco de pancadas, o Aurora. Sorte igual na distribuição de adversários só o Boca Juniors teve. Não à toa, são os dois melhores na classificação de líderes.

Portanto, é difícil saber se um meio-campo com Adílson, Tcheco e Souza terá a capacidade de conter adversários do porte de Boca Juniors, Cruzeiro, Estudiantes e São Paulo, que serão provavelmente os maiores rivais gremistas na disputa pelo título. A variação para um 4-4-2 com Réver à frente da zaga, testada em alguns jogos, não foi colocada em campo por acaso. Nem mesmo a comissão técnica sabe se será possível enfrentar adversários fortes desta maneira. A possível contratação de Túlio, do Corinthians, ex-Botafogo, seria interessante.

Entretanto, há algumas certezas. A primeira delas diz respeito à qualidade geral da equipe. Fosse o Grêmio um time sem possibilidades de brigar pelo título, não faria os 16 pontos que fez. Penaria para vencer seus jogos. O que se viu, apesar do drama do desperdício de oportunidades nas duas primeiras partidas, foi um time experiente, que dominou completamente seus adversários mais modestos na maior parte do tempo. Há boas tramas pelos lados, especialmente pela direita; a criação de jogadas não é um problema, tampouco a defesa, que sofreu apenas um gol em seis jogos. Há tabelamentos envolventes, eficiência em bolas paradas. Tudo isto já é ótimo sinal.

Uma certeza negativa ainda são os problemas na frente, que teimam em não se solucionar. O Grêmio dispõe de bons atacantes no seu plantel, mas até agora ninguém confirmou de fato. Jonas teve seu momento em fevereiro, mas desandou a perder gols; Alex Mineiro é tecnicamente o melhor, joga fácil, mas não tem feito gols; Maxi López é o que dá mais esperanças. Com a sequência que vem obtendo, vai se firmando. Rospide ontem indicou que não pretende colocá-lo junto a Alex Mineiro. Confesso que estou curioso para conferir como seria o desempenho desta dupla. Vale lembrar que o carequinha teve grande fase jogando ao lado de outro centroavante, Kléber Pereira, em 2001, no Atlético-PR campeão brasileiro.

O que me dá mais esperança num título é que, dos times que vi jogar nesta primeira fase, o Grêmio foi provavelmente o que praticou melhor futebol. Porém, mesmo que o time feche a fase com mais pontos, mais vitórias, invicto, com melhor ataque, melhor defesa e melhor saldo, não espaço para qualquer tipo de euforia. Isso não é pouca coisa, mas também não é garantia de nada, pois agora é outra história. Mas perspectivas são boas, apesar das ressalvas. Se a primeira fase foi um ensaio, agora é hora de pôr tudo isso em prática no mata-mata.

Colaboração de Vicente Fonseca, autor do blog Carta na Manga e um dos mais atentos comentaristas de futebol nessa Libertadores.