Cantos de Don Affonso

Na noite em que o Grêmio açoitou o Boyacá Chicó e garantiu a melhor campanha de todos os tempos da Libertadores de 2009, fiz questão de colocar o radinho no ouvido e caminhar os abençoados 70 passos que me separam do melhor bar de Porto Alegre, que NÃO TEM NOME e cujo manager atende por ELVIS, mas que se tornou conhecido entre os redatores deste portal pela singela alcunha de Querência de Don Affonso – ou Aff’s Pub, como queiram.

Minha honesta intenção era assistir a um jogo solito, na condição de amante do FÚTBOL e apreciador de bares vazios e cheios de milongas. Propus ao Exu que reside no meu ombro esquerdo que seriam apenas duas FRAMBOESAS, uma em cada tempo. É claro que falhei miseravelmente. Mas isto é do jogo, já diria aquele quarto zagueiro afobado.

Sobre a partida em si, uma atuação muito superior do Grêmio no primeiro tempo, impedindo que o time colombiano mostrasse seu MOLEJO (trazacaçamba, trazacaçamba). Aos 16 minutos, o Tricolor já vencia por 2 a 0, ambos gols de Souza, o primeiro uma bucha cheia de PEÇONHA, encobrindo o arqueiro. Aos 30, gol de Léo, após Réver escorar cobrança de falta de Tcheco.

O Grêmio não chegou a exercer uma pressão infernal nem criou milhares de chances, mas simplesmente sufocou o time colombiano durante a primeira etapa, apresentando como destaques RÉVER, que fazia uma ALAVANCA muito malandra na meia-cancha, Rui Bolo “Inglês”, que andava faceiro pela direita e, claro, Souza, o melhor jogador do Grêmio no ano da graça de 2009.

Com o jogo praticamente concluído, restava esperar pelo próximo classificado do grupo, pois o Aurora insistia em colocar aquela MÃOZINHA pra fora e dar o cagaço maroto no final do filme, empatando com o Universidad do Chile em 1 a 1  – depois, os chilenos fizeram o segundo e garantiram a vaga. Bem feito para o Boyacá, que não soube honrar a MÍSTICA daquela camisa de toalha de restaurante português.

No bar onde eu estava, solenemente apoiado na mesa e olhando para uma garrafa encalacrada pelo OPRESSOR plástico manetenedor do estado de GELIDEZ da bergamota, mais CINCO viventes esparramavam-se pelas mesas, além de dois gaiatos que se escoravam no FREZZER, perto da porta, para não pagar sequer uma água sem gás. Elvis, o manager, flanava entre as mesas, alegre em uma noite que certamente contribuiu para sua saúde no que tange a VARIZES.

Chegou o intervalo do jogo e, vitimado pela natural inquietude do SER, aliada à desgramenta maneira com que as emissoras de rádio e televisão costumam preencher esta preciosa lacuna entre os dois tempos, percebi que não havia outra saída que não escrever um soneto.

Oh, isopores eternos em berruguentos bares
Afastem-me desta rotina CACHORRA e medonha
Me levem para a relva aonde uma virgem sonha
Cansei de esquentar a cabeça e ranger MOLARES

Que inferno vazio este intervalo de jogo
Em que a tristeza me come AS PANTURRILHA
Professor, eu não quero seguir a cartilha
pelos céus, por Renteria, meu DESAFOGO

Eu e mais cinco velhos invocamos a eternidade
Solitos na noite ENFERMA, assoprando alcatrão
Indiferentes mesmo que se explodisse esta CIDADE

Já gritei aos quatro ventos, já falei para o patrão
Não é que eu me sinta de verdade um ANIMAL
Se for pra ser titular, eu jogo até na LATERAL

Eu nem bem tinha polido a MÉTRICA e o jogo recomeçou. Bastante diferente daquele do primeiro tempo, é verdade, mas nada que pudesse impor medo aos gremistas. Basicamente, serviu para mostrar que os nobres guerreiros do Boyacá – agora, LAZARENTOS eliminados – não vieram apenas tomar capuccino na PADRE CHAGAS.

Na verdade, eu sou um observador de jogos muito PECULIAR. Tenho de fazer um esforço GUIÑAZÚLICO para manter a atenção na movimentação tática das equipes. Geralmente, ou me encontro sob os efeitos do NESCAU, ou estou muito nervoso, o que faz com que só consiga prestar em atuações individuais e na movimentação geral (na verdade, estou mentindo e o que penso mesmo é que essa história de tática no futebol, em 90% dos casos, é uma desculpa para empregar milhares de cronistas esportivos).

O segundo tempo transcorreu sem maiores PERCALÇOS, além de um pênalti que o juiz mandou voltar porque um PRIMO do Renteria invadiu a área, e a defesa de Victor que fez com que o time colombiano saísse de Porto Alegre com a pochete vazia. O Grêmio, que nitidamente puxou o freio depois do intervalo, alcançou a melhor campanha e, assim, o direito de fazer todos os jogos decisivos no Olímpico, o que é uma senhora vantagem.

Já no grupo 8, o Universitario, do Peru, mesmo perdendo por 2 a 0 para o pobre eliminado San Lorenzo, estava classificando-se quando já era tragado o filtro do cigarro. Mas a barca afundou quando REYES anotou o 2 a 0 do San Luís diante do Libertad, no Paraguai, aos 46 da segunda etapa, classificando os mexicanos para o coquetel de convidados das oitavas-de-final da Libertadores.

A foto é da AFP.

Saudações,
Douglas Ceconello.