Jardim de nossa alegria

“43 partidas? Não há problema”

É grande a tentação de escrever sobre a bravura do Internacional na noite de quarta, em La Plata, mas meu coração de corneta insiste em dizer: não foi nada de mais. Com um a menos, mas diante de um adversário que aparentemente ofereceria mais riscos, o Colorado superou o Estudiantes com a tranqüilidade de um tabelião carimbando certidões. Lutou, é fato, mas venceu porque sua camisa tem a hoje a tarimba dos campeões.

Como bom anfitrião, foi o Estudiantes quem tomou as primeiras iniciativas, assustando a defesa colorada com bolas cruzadas na área e ataques de Salguero, contagiando e sacudindo a cidade de La Plata. Porém, a manifestação estudantil não durou mais que dez minutos: logo o Internacional acionou sua tropa de choque – cujo único reparo talvez fosse o atabalhoamento de Edinho e Magrão – e lançou sobre o adversário apenas algumas bolas de efeito moral.

O jogo ia no tranquito, bola pra lá, bola pra cá. Querendo chamar atenção, o árbitro Carlos Amarilla marcava faltas demais e aplicava cartões da cor do seu sobrenome, situação que excluiria Guiñazu de campo logo aos 24 minutos. Decisão, no mínimo, exagerada. Mas talvez Amarilla quisesse apenas um careca em campo.

A expulsão do volante colorado fez com que alguns gaiatos, num bar insalubre porém honesto da rua Riachuelo, temessem pelo pior. Mas depois compreenderíamos que a saída de Dom Afonso porta afora era parte da estratégia para reverter a situação.

Fernando Carvalho acertou em não fazer substituições logo após a expulsão de Guiñazu, recuando Alex e deixando que Nilmar corresse sem rumo por todos os lados do campo, ladino como um punguista na Voluntários da Pátria. Mesmo na crise, o Colorado especulava. Os boêmios confiavam que dali a pouco o time ia dar um beliscão. E aos 33 minutos veio o que não era improvável: D’Alessandro lançou Nilmar – ô dupla que vem funcionando, hein ô Batista -, este recebeu um pé-de-cabra de Desábato e só precisou dramatizar a situação para que Amarilla corresse com o braço teso rumo à marca da cal.

Para não deixar dúvidas, Alex converteu duas vezes a penalidade, já que Magrão, não contente com a má atuação, resolveu invadir a área no momento da primeira cobrança.

Com o Internacional mantendo o jogo sob controle, só temíamos que o Pastor resolvesse falar alguma coisa sobre tática e posicionamento aos jogadores no intervalo da partida. Mais correto seria tocar um disco do Noel Guarany e mudar de assunto.

Mas não.

Na volta para o segundo tempo, percebeu-se claramente o dedo do treinador. O Internacional recuou mais do que era necessário. Lauro, muito seguro mais uma vez, nunca teve tanta companhia na pequena área. Menos mal que o Estudiantes só ameaçava com chutes de média distância e infindáveis bolas alçadas na área. Às vezes perigosas, mas nada que me fizesse perder a tranqüilidade de ir ao banheiro entregar minha cerveja aos cuidados do DMAE.

Pela galhofa, dizia-se nas mesas que Verón claramente estava jogando só no nome, beneficiado pelo nepotismo histórico da presença de seu pai na trajetória do clube platense. Outra questão em debate era se o Pastor pensava com o cérebro ou com o reto ao posicionar em campo nada menos que nove jogadores de defesa – entre eles, cinco zagueiros. E nesta toada nos conduzimos ao final da peleja.

Podia ter sido tudo mais tranqüilo mas, no final das contas, o Internacional venceu, com uma atuação convincente nestas plagas onde tanto se valoriza ser copero y peleador.

Um abraço,
Daniel Cassol
Foto: EFE