Os carteadores de La Plata

Não leva a quase nada, mas é uma final. Finais são jogos de pôquer: vale a estratégia, mas também o blefe e o lado psicológico. Marcharam no Ciudad de La Plata ontem dois grandes carteadores – um vestia a 15, outro a 11.

Juan Sebastián Verón sempre foi um grande jogador, mas nunca foi lá um decisivo. Sua melhor fase européia foi na Inter, quando esta não disputava grandes copas internacionais. Na Copa de 2002 estava na sua melhor fase, mas passou a ser odiado por alguns pela demora nas cobranças de lateral no último jogo – a Argentina precisava vencer. Só que o sobrenome vale muito. Aos 25 minutos, recebeu uma falta não tão grave de Guiñazu. Provavelmente Verón sabia que Guiñazu era a referência anímica e defensiva do Inter. O jogo demonstrava que sempre a bola saía de trás nos pés dele. Então, jogou-se ao chão como se tivesse perdido a perna.

Muita gente diz que Amarilla acertou, o Olé diz que errou, pouco importa. Aquela foi a falta de Verón. Ao desfalecer, foi-se o Cholo pra rua. Antes deram duas porradas nele, uma valeu cartão. Nada ocorreu, pois o cordobés gosta de dor. Então, ruminou Verón, ele será vítima do seu ímpeto. Assim foi.

Assim seguiu Verón, sempre encontrando um espaço perto da lateral, do círculo central, livre para pensar e para agir. Impossível manter marcação individual com um a menos. O Inter correu o risco de ver La Brujita decidir uma partida. Não aconteceu, talvez pese a força dos anos.

Não aconteceu, em parte, por causa do outro carteador, aquele da 15. Andrés D’Alessandro, criado num time vitimado por muitos fracassos internacionais, é um estereótipo argentino em campo. Reclama do árbitro, debocha dos adversários, irrita os torcedores, muitas vezes os próprios. Mescla uma dividida sem firmeza com uma comemoração sanguínea. Lançou Nilmar, houve o penal e depois, adonou-se da bola, emprestando-a de vez em quando. Desde que o destino fosse mandá-la para Porto Alegre, acabando com aquela peleja, tudo bem.

La Brujita era a referência de um cansado Estudiantes contra um retrancado Inter. Abusou dos cruzamentos e – heresia máxima – ainda deixou uma bola correr debaixo do seu pé, rumo à lateral. Não era uma boa noite. Conseguia a vitória pessoal, mas não a coletiva, aquela que acabou ficando com o carteador Andrés.

Andrés está com um four de ases na mão, mas todos sabemos que debaixo daquele bigode pode estar um straight flush. As fichas na mesa não compõem a maior aposta de todas, muito menos a maior de suas vidas. Só não dá para dizer que não é divertido acompanhar.

Prefiro canastra,

Luís Felipe dos Santos

(atualizado com uma foto do El Día)