O golpe de misericórdia

A decisão do Grêmio de assinar com a Globo, divulgada há pouco, é talvez uma tentativa da rede de acabar de vez com a legitimidade de Fábio Koff como grande liderança dos clubes brasileiros. Nenhum clube tem mais significado nesse contexto que o Grêmio, clube que projetou a figura de Koff como dirigente e no qual ele conquistou um título mundial e duas Libertadores. O movimento é um xeque, ainda não mate, no C-13, mas resta saber se o tricolor não está entrando com o bigode abanando na história.

Os números devem ser muito bons e vão gerar uma série de discussões nos próximos dias. Devem ser bem maiores do que aqueles que o Grêmio levará para a transmissão dos jogos em 2011, além do que algumas cotas já podem ser adiantadas e se transformar em reforços desejados pela torcida. Há também uma possibilidade, não tão remota, de que o Grêmio tenha dado agora o grande passo para tirar a Copa do Mundo do Beira-Rio, considerando que as decisões sobre a Andrade Gutierrez não serão tomadas tão cedo e que o lobby de Ricardo Teixeira e da CBF exige pressa.

Nunca é demais, porém, lembrar do contexto.

A briga não é só pelos direitos de transmissão e quem lê o Impedimento há tempos sabe disso. A CBF jamais teve uma interferência tão grande em assuntos diretos dos clubes – só está fazendo agora por que quer alguém de confiança para gerir os próximos campeonatos brasileiros, uma vez que Teixeira quer se dedicar apenas à Copa. Esse alguém se chama, até o momento, Andrés Sanchez – figura que guarda grande rejeição em alguns clubes, como o São Paulo, mas que se tornou peça chave.

Chamando Paulo Odone para o seu lado, a Globo e a CBF não querem apenas desmoralizar de vez Fábio Koff – que mostra uma certa mágoa de Odone ao ver a ruptura. Os primeiros mandatários do futebol brasileiro também ganham um nome forte e com pequena rejeição para atrair mais clubes para o seu lado, como se não bastasse a própria marca e a capacidade de convencimento dela.

O grande risco que Odone e o Grêmio correm é de dançar a DANÇA DO PATINHO na história. Pelas conveniências, a grana é preta e é muito grande – mas também é um parâmetro para as negociações dos outros clubes. Nem Corinthians, nem Flamengo, nem São Paulo vão aceitar receber valor igual ou menor que o do Grêmio. O Internacional não suportará conviver com a possibilidade de aceitar um valor inferior. Vasco, Santos e Cruzeiro já devem ter planilhas de institutos de pesquisa nas mãos que mostrem o quanto sua torcida é maior e mais consumidora. Há dinheiro para todos? Dificilmente não haverá.

O Campeonato Brasileiro de 2011 tem tudo para dar início a uma série de medidas populistas que vão agradar a patuleia e fazer o povo pensar que o futebol brasileiro está no caminho certo. Essa bobagem dos clássicos na última rodada, por exemplo, era alternativa líder nas enquetes de rádio, TV e internet, ainda que o efeito prático dela seja questionável – se a decisão for na penúltima rodada, por exemplo, a entrega pode acontecer do mesmo jeito. Aguardem, a partir de agora, muitos movimentos no que diz respeito à janela de transferências, à permissão para um jogador atuar em outro clube (seis jogos é muito ou pouco?), concessões em horários de TV (número de aparições do Grêmio em horário nobre será maior ou menor, em 2011?) e outras perfumarias.

Tudo para Ricardo Teixeira anunciar, na festa dos melhores do Brasileiro, a nova Liga de Clubes Brasileira. Uma ‘premier league’ absolutamente profissional, com dirigentes remunerados, em um belíssimo prédio em Brasília. Os direitos de TV batendo na casa dos R$ 2 bilhões, a Copa do Brasil de ano inteiro, 6 vagas na Libertadores e tudo o que os clubes da Série A mais desejarem. No comando, Andrés Sanchez, Paulo Odone e algum outro aliado de última hora.

Pão e circo,
Luís Felipe dos Santos