Paulo Silas Domenech

Quando Vanderlei, que havia simulado pênaltis inverossímeis a partida inteira, marcou o segundo gol no Prudentão, os gremistas que viam o jogo comigo estamparam no rosto consternado a certeza de que poderiam explicar aquilo. Anunciaram que a hipótese mais provável para justificar o que aconteceu e o muito que não houve era a de que os jogadores estavam boicotando o trabalho do técnico Silas, quase como fez o elenco da França na última Copa do Mundo. Mas falta sentido para que Silas ocupe o papel de Domenech, aquele pagão.

O primeiro argumento, ao meu ver, já destroi a teoria: os jogadores do Grêmio não têm qualquer motivo para tentar derrubar Silas da casamata. Todos os medalhões estão em campo, o único criticado publicamente é Mario Fernandes, Hugo pode permanecer absorto durante noventa minutos que não será sacado e Douglas pode emendar oito daqueles passes frescos – errando sete deles – que nada acontecerá com a sua cabeça. Fosse um elenco forjado no Olímpico, conhecedor das causas do clube, o boicote para renovar o ambiente (?) talvez fosse um pouco mais provável. Definitivamente, não é o caso.

.O Grêmio deixou o interior paulista com dois a zero no lombo não porque os seus jogadores tenham razões obscuras para derrubar o treinador – e sim porque as boas atuações do time no ano não passam de cinco e porque o time gaúcho não pôde criar nem um esboço do balançar das redes do arqueiro do Grêmio Prudente. E o fato do ataque não funcionar se deve, muito, às inexistentes atuações de Douglas e Hugo – quando coube a Edílson e Neuton buscar algo pelos costados, o que houve foram passes errados e fornecimento gratuito e eficiente de contra-ataques.

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Perdido na vida, o Grêmio apenas se arrastou nas nove primeiras rodadas do Brasileirão. Nem quando venceu Avaí e Atlético-MG o time convenceu, e as citadas cinco apresentações decentes ainda datam da conquista do Gauchão e dos espasmos na Copa do Brasil. A raiva que vem da arquibancada, e portanto é sábia, não tem apenas um foco, mas um plural bem definido – Silas, Meira, Duda e os atletas que recebem um soldo bem fornido e não arrastaram a bunda no chão em mais de oitocentos minutos de futebol no certame nacional.

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No entanto, a única parcela da campanha que não surge como ameaça espectral é a presença na zona de rebaixamento. Pensar em descenso agora é admitir que o trauma recente não foi superado – o Grêmio joga mal, mas há times piores no campeonato. Nem tão piores assim e nem tantos times, mas há. De qualquer modo, não é exatamente indicado deixar o campo em Presidente Prudente com a equipe na décima sétima colocação e falar em título, como fez Silas.

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Para salvar um Grêmio que não adentra o gramado fora de casa e não sabe como vencer o Vitória nem com o minuano mais gelado da década riscando o Olímpico, exige-se bastante. Aceitar que talvez jogadores como Hugo, Douglas, Leandro e Rochemback não subirão de nível é um começo, assim como pensar em um substituto para Silas. Mesmo que beire a revolução, começar um outro grupo – sem a menor grife e a partir do que vem da base – para trabalhar ainda no Brasileirão, mantendo os que costumam se salvar, não deixaria a torcida descontente. Na pior das hipóteses, surgem uns cinco ou seis cumpridores para 2011. Já é mais do que temos hoje.

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Saludos,

Iuri Müller