Mês do cachorro louco

Enterrem uma urna com os jornais desta segunda-feira. Pois as gerações futuras deverão saber que, no dia 31 de agosto de 2008, o Grêmio decretou-se campeão brasileiro e o Internacional soterrou, definitivamente, os planos para o ano do seu centenário. E tudo isso ao mesmo tempo.

Nos pulsos dos árbitros, os cronômetros não assinalavam nem um terço do segundo tempo. Aos 9 minutos, em Porto Alegre, o Grêmio abria o marcador diante do Vasco, com Soares. Ato contínuo, a televisão assinalava o empate do Atlético-PR contra o Pameiras e Paulo Britto, na Ilha do Retiro, narrava o que conseguia distinguir do gol de Dutra, para o Sport Recife.

O fato de o Palmeiras, com dois de Diego Souza, ter vencido fora de casa, não altera em nada as razões do lead. O Grêmio sai deste agosto como o campeão brasileiro de 2008, só faltando as formalidades para confirmar o título.

Peço escusas aos gremistas por ter acompanhado a tarde do campeonato tricolor apenas pelo rádio e pelos melhores momentos na televisão. Porém, o que se viu e ouviu foi suficiente para demonstrar a consistência da equipe campeã, mesmo diante dos desfalques vascaínos e da dificuldade em abrir o placar.

No primeiro tempo, Tcheco, Souza e Perea entravam como bem queriam na zaga carioca, só faltando a este último a capacidade de finalização. Quis o destino, que nesta temporada vem jogando pelo Grêmio, que Perea se lesionasse ao final do primeiro tempo, dando lugar para Soares. Pois foi este cidadão que abriu o marcador, de cabeça, naquela hora cabalística.

O Vasco, que veio a Porto Alegre tentando apenas perder de pouco, ainda empataria com Alan Kardec, mas não havia espírito que tirasse a vitória do Grêmio. Soares apareceu outra vez, escorando para Marcel completar para as redes, selando o tricampeonato tricolor.

Sim. Gremistas próximos mandam eu ter cautela e me acusam de estar rogando praga. Admito que eles mantenham todos os dedos em relação ao título, principalmente porque quem tem Roth tem medo. Mas o Grêmio chegou a um estágio em que, simplesmente, as coisas funcionam. Parece que Anderson Pico jogou muito mal, mas nessa hora funcionou muito mais aquilo que chamam de coletividade – nas rádios, os votos para o melhor em campo foram para Tcheco, Souza, Marcel e Soares.

A distância para o segundo lugar ainda é de cinco pontos, mas vejam pelo lado positivo, oh, céticos tricolores: há um caminhão de rodadas, a vantagem não diminui. O Palmeiras segue na rabeira e todo o cuidado é porco. Mas, por favor, a cautela de vocês só pode ser uma formalidade metodológica para não evitar surpresas no final do ano, uma vez que este Grêmio, treinado por Roth, é o tipo de time que chega a campo sempre com a possibilidade de sair vitorioso.

Nós, colorados, já andamos de cabeça baixa por aí, arranjando o que fazer. Talvez nos interesse o torneio de Criquet disputado pelos japoneses aposentados no Parque da Redenção.

Porque futebol não dá mais.

Não me consta que o Internacional tenha praticado este esporte na Ilha do Retiro. Ainda que, neste caso, seja imperioso olhar nos olhos de Tite e dar um desconto pra ele. No primeiro tempo, o Inter não teve quase jogadas de ataque, muito disso porque Alex e D’Alessandro troteavam qual matungo no final da vida na meia cancha, deixando este setor dominado pelos leões. (As boas almas irão lembrar que D’Alessandro chegou a Porto Alegre anunciando que estaria pronto para atuar a qualquer momento do dia e da noite). Adenor, então, sacou o argentino e mandou a campo o lamentável Andrezinho.

O Inter, pelo menos, passou a atacar mais. Teve chances de abrir o marcador com Nilmar. Tudo ia indo bem, mas é como diz Douglas Ceconello, por MSN: “Sob o comando de Tite, um palhaço, toda derrota do Inter é não apenas justa, mas merecida”.

Com um vazio existencial no meio campo e uma zaga absolutamente recuada, com sete defensores colorados jogando quase que em linha na frente da área, o gol do Sport era uma questão de tempo. E os sinos das trevas haviam soado no momento do gol tricolor no estádio Olímpico. Foi então que Dutra, recebendo bola que já havia atravessado a área colorada, tabelou com Enílton em meio a nada menos que quatro defensores do Inter, saindo de cara para Clemer, que nada pôde fazer.

Não bastassem as indisposições estomacais, as transferências internacionais e a hepatite, ainda temos que agüentar o Tite.

Cumprindo tabela, o Palmeiras venceu fora de casa e manteve a distância regulamentar de cinco pontos para o Grêmio. O Botafogo, no sábado, empatou com o Náutico em casa e só não saiu do G4 porque o São Paulo não saiu do zero diante do Santos, no Morumbi. O Cruzeiro, que vencia o Coritiba no Mineirão, cedeu o empate quase no final, estacionando nos 40 pontos.

E foi assim que terminou agosto. E o ano de 2008.

Um abraço,
Daniel Cassol
Foto: Itamar Aguiar/VipComm/Terra.