Dantas foi desastroso para o Bahia

11/07/2008 at 01:48 17 comentários

Como sabemos, Daniel Dantas, que tudo vê e tudo provê, que é pai, padrasto e ama de leite de partidos, empresários, lobistas, advogados, jornalistas e talvez até de fiscais de trânsito e coroinhas de Igreja, andou metendo a mão também no futebol. O resultado: um clube falido e devendo na praça, dois rebaixamentos, um deles à Terceira Divisão, e uma nação tricolor desmoralizada e esmorecida.

“Uma gestão altamente desastrosa” a de Dantas no Esporte Clube Bahia, nas palavras de Euclides Almeida e Pedro Cordier, integrantes do movimento Sempre Bahia. Eles responderam nossas perguntas sobre a associação do banco Opportunity com o Esquadrão de Aço e sobre o atual momento do clube, proporcionando uma abrangente leitura da vida do tricolor baiano após o inferno de Dantas.

Almeida e Cordier ressaltam que as perguntas também foram respondidas com ajuda dos integrantes da Associação Bahia Livre (ABL). São grupos de oposição, como o Bahea Minha Porra (excelente nome), e alguns deles formaram um bloco, chamado Revolução Tricolor, com um ousado e hercúleo objetivo: incentivar que as pessoas se associem ao Bahia para, no voto, recuperar o seu clube de volta. Na foto acima, uma passeata realizada no último dia 2.

No site da ABL, descubro que quatro integrantes do conselho de administração da Ligafutebol, a empresa controlada pelo Opportunity que era (talvez ainda seja) sócia da Bahia S.A., também teriam visto o sol nascer quadriculado nesta semana. Nesta nota da Agência Brasil, porém, há apenas o nome de três: Arthur Joaquim de Carvalho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin.

Vale ler a entrevista.

Qual foi a “herança” deixada por Daniel Dantas no Esporte Clube Bahia?
Junto com a diretoria do Esporte Clube Bahia (E.C.B.), a Ligafutebol S/A (empresa controlada pelo Opportunity) foi responsável por uma gestão altamente desastrosa, tendo acumulado no período 1998-2006 (ano em que assinou o distrato com o E.C.B.) um prejuízo de quase R$ 50 milhões. Mesmo assim, com o distrato, a Ligafutebol S/A deverá receber cerca de R$ 4,6 milhões até o ano de 2023.

O banqueiro ainda mantém relações com o ex-presidente Paulo Virgílio Maracajá?
Não sabemos responder.

Qual é avaliação que vocês fazem da atuação de Maracajá?
Paulo Maracajá é um dos últimos “coronéis” do futebol brasileiro, que já teve outros ícones como Eurico Miranda, Vicente Matheus, etc. Ele foi presidente do clube de 1973 a 1994, quando “saiu” para ocupar um cargo vitalício no Tribunal de Contas do Município. A partir daí, passou a comandar o Bahia nos bastidores através de pessoas de sua inteira confiança como Francisco Pernet, Marcelo Guimarães e Petrônio Barradas. O “eterno” presidente do Esquadrão de Aço já obteve muitas conquistas durante sua gestão, tendo inclusive sido campeão brasileiro, mas, ao mesmo tempo, é diretamente responsável pela situação atual em que se encontra o clube, que ainda é dirigido de forma semi-amadora, sem planejamento, sem visão empreendedora e sem transparência.

Que fim levou a associação entre o Bahia e o Opportunity? Qual é a situação atual?
A diretoria tricolor alega que, há dois anos, o clube rompeu com o Opportunity – e assumiu o controle acionário do Bahia S/A. Porém, 30% do valor da venda de qualquer jogador do Bahia irá para a instituição financeira, até 2023, de acordo com o distrato assinado em 2006. Caso o Esporte Clube Bahia descumpra o acordo, uma cláusula permite ao Opportunity voltar a exercer todo o controle de antes sobre o clube.

Na avaliação de vocês, porque Daniel Dantas, um banqueiro bilionário, decidiu investir no Bahia sem se preparar para isso, colocando gente “amadora” no comando do clube?
Essa é uma questão nebulosa, mas o fato é que houve forte pressão política para que o Opportunity investisse no Bahia. Na verdade, o investimento no BASA (R$ 12 milhões) é pequeno em comparação com os demais investimentos realizados pelo grupo (telefônicas, companhias energéticas, terminal do porto de Santos, Metrô do RJ, Sanepar, criação de gado, mineração, etc.). Conforme declaração de um representante do Opportunity (Jornal A Tarde, 09/07/2008), a intenção do grupo era também comprar clubes de outros estados para formar uma liga, nos moldes do que acontece no basquete norte-americano. Porém, os planos foram alterados, pois, depois da assinatura do contrato, a legislação mudou e proibiu que um único grupo controlasse mais de um time de futebol. 

Qual é a atual situação financeira do clube?
Rombo enorme com crescimento de 1020% em apenas nove anos. Em janeiro de 1998, pouco antes de fechar a parceria com o Opportunity, dirigentes tricolores admitiram que o clube estava em “estado de insolvência”, à beira da extinção. A dívida, na época, era de R$ 5.372.873,00 – mas ela terminou devidamente quitada, com sobras, pelos investimentos iniciais do banco. O problema é que, em apenas nove anos de Bahia S/A, a empresa já está com um passivo descoberto de R$ 45,974 milhões, segundo balanço publicado no último dia 3 de dezembro pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM): 1020% de aumento. Isso significa que se o clube vender todos os seus bens, hoje, ainda vai dever esse valor exorbitante. O Diretor financeiro do Esquadrão de Aço, Marco Costa, não vê motivo para preocupações. Parte da dívida seria sanada pela Timemania (loteria do governo federal) e o restante perdoada pelo grupo Opportunity até 2023 – graças ao acordo firmado com a instituição em outubro de 2006.

Quais são os objetivos imediatos das oposições do Bahia em relação ao futuro do clube?
Um dos maiores motivos da perpetuação no poder dos atuais dirigentes tricolores é a falta de força da oposição. Já existiram diversos movimentos e grupos com diversas atitudes para promover mudanças no Esporte Clube Bahia, mas até hoje nunca foi obtido sucesso. Um dos maiores motivos para esses fracassos é o fato de nunca ter surgido uma grande liderança como um ex-jogador ou um torcedor ilustre e popular. Recentemente, um pequeno grupo de torcedores e membros de duas torcidas organizadas invadiram o Fazendão e fizeram um ACORDO com os “cardeais” tricolores para ter eleições diretas apenas em 2011… A grande maioria não gostou do acordo que terminou não representando a vontade da imensa Nação Tricolor. Um novo grupo de oposição chamado REVOLUÇÃO TRICOLOR (o qual o SEMPRE BAHIA faz parte) surgiu há poucos meses e pretende agir de uma forma diferente. Cansados de gritar sem ser escutados, os membros do novo grupo resolveram se associar ao clube, mesmo sem eleições diretas, para tentar, de dentro do clube, conseguir as mudanças que todos anseiam.

Um abraço,
Daniel Cassol

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17 Comentários Add your own

  • 1. Milton Ribeiro  |  11/07/2008 às 09:53

    O primeiro parágrafo deste texto faz-me lembrar de como sou mal relacionado economicamente. Não respinga porra nenhuma aqui.

    Grande post. Quanto a ABL, quando li o nome no parágrafo de baixo, não relacionei imediatamente com a Associação Bahia Livre e sim com a Academia Brasileira de Letras. Tomei um susto imaginando o Dantas tomando chazinho com o Sarney e o Scliar…

    No mais, pode prender. O Sarney também, tá?

    Abraço.

  • 2. Francisco Luz  |  11/07/2008 às 10:05

    Também pensei na ACADIMIA, e não me atinei durante um bom tempo de ver qual era o link.

    Grande trabalho, Cassol. Ainda bem que alguém se preocupa em mostrar isso, enquanto ninguém fala nada sobre a relação do dono do país com o BAÊA.

  • 3. Lwks  |  11/07/2008 às 10:34

    Bela entrevista. Faço parte da Revolução Tricolor. E ainda acrescento que a mídia baiana é controlada com “jabás” pelos eternos dirigentes, e não apoiam em nada o interesse da torcida, que é ver o clube grande outra vez.

  • 4. Luís Felipe  |  11/07/2008 às 10:41

    tá, mas qual é a possibilidade de um rasta-quera qualquer resolver personificar a “revolução” e lançar o seu nome à candidatura, com amplo apoio popular? Isso já aconteceu em muitos clubes.

  • 5. izabel  |  11/07/2008 às 10:48

    massa, Cassol.
    acho muito triste ver o bahia nessa situação. e o pior é que até agora não demonstra sinal de que chegará à série A ano que vem.
    e faltou nessa entrevista os caras mencionarem os braços políticos (filho deputado estadual, entre outros) do maracajá. o cara comprou uma ilha na baía de todos os santos, enquanto o clube só se afundava.

    em tempo: não compararia eurico e maracajá ao vicente matheus. sério mesmo. administração atrapalhada por outros motivos, não a sem vergonhice e falta de amor ao clube.

  • 6. Flávio  |  11/07/2008 às 10:58

    As parcerias com grandes empresas e investidores foi a maior ilusão do futebol brasileiro nos anos 90. Não que para alguns clubes elas não tenham sido benéficas. Palmeiras, Corinthians, Vasco e Grêmio conquistaram seus últimos títulos de verdade com times montados com o dinheiro de parcerias. O Juventude só venceu o Ruralito e a Copa do Brasil e subiu para a Série A graças à associação com a Parmalat.
    O problema é que esse modelo, que deveria representar uma ruptura com o domínio da velha cartolagem incompetente, corrupta e personalista, não foi capaz de reformar as estruturas arcaicas do nosso futebol. Na verdade, as empresas, na maioria das vezes, apenas entregaram seus milhões nas mãos dos mesmos cartolas de sempre, com, no máximo, tímidas e cosméticas medidas modernizadoras para enganar os incautos. No caso do Bahia, então, o que houve foi rapinagem mesmo. A empresa criada por Dantas para administrar o clube mostrou-se tão ou mais predatória que os cartolas tradicionais.

  • 7. Carlos  |  11/07/2008 às 11:54

    Flavio…é no mínimo inocente achar q as empresas não eram piores q os cartolas…

    A parceria pro Grêmio, por exemplo, foi uma merda com M desse tamanho. Tanto é q estamos quebrados e sem nenhum tostão por culpa dessa porcaria toda. Fora outras questões que a gente nunca consegue saber, por causa da tal “economia interna” q ainda reina no Grêmio.

  • 8. Flávio  |  11/07/2008 às 12:44

    Sim, eu não disse que eram melhores no aspecto ético (vide MSI, ISL e mesmo a Parmalat, com seus balanços maquiados). Na maioria das vezes, a empresa só entrou com a grana, mas a administração do futebol continuou nas mãos dos cartolas. O caso do Edmundo Silva, ex-presidente do Flamengo, é emblemático. Embolsou parte da grana da ISL ao invés de aplicá-la no clube. Mas que alguns times conseguiram bons resultados em campo graças aos investimentos das parcerias é inegável.

  • 9. Franciel  |  11/07/2008 às 13:35

    Lugar de banqueiro é no xilindró. Acho que podemos abrir uma exceção apenas para Daniel Dantas porque ele fez uma coisa boa: ajudou a afundar o Timeco de Itinga.

  • 10. Prestes  |  11/07/2008 às 14:44

    Legal ter falado do Bahia, Cassol!

  • 11. Prestes  |  11/07/2008 às 14:46

    Carlos, mas a merda foi ter o Guerreiro como presidente.

  • 12. Flávio  |  11/07/2008 às 15:02

    O Grêmio devolveu a ISL o dinheiro que recebeu? Que eu saiba não.
    Acho que o rombo começou porque alguns jogadores (Danrlei, Anderson Lima, Zinho, Roger) que fizeram bons contratos na época da parceria continuaram no clube após a falência da ISL, sem que houvesse redução salarial – até porque havia o interesse de se manter um grupo forte para o centenário.

  • 13. Titi  |  11/07/2008 às 15:29

    Salarios sao irredutiveis!

    O Gremio nao devolveu o dinheiro, mas arcou com as dividas!

  • 14. Joãozinho  |  12/07/2008 às 16:03

    Muito bom esse post que ajuda a mostrar um lado que não está sendo falado.

  • 15. tarsischwald  |  13/07/2008 às 14:30

    Curioso que as “parcerias” já foram vistas como a salvação do futebol. Grêmio faliu e foi rebaixado após uma parceria. Palmeiras e Corínthians, Bahia, todos igualmente grandes do futebol, ídem.

    O que eu percebo é que há um esforço IMENSO para acabar com a paixão do Brasileiro pelo futebol, começando pela Seleção da CBF/Nike.

    Por outro lado a prisão de alguns desses safados nos dá algum alento. Vamos ver o que o futuro reserva ao futebol desde país de miseráveis.

    Abs!

  • 16. Ivan  |  04/08/2008 às 02:47

    Não é a toa que o clube brasileiro mais vitorioso dos últimos anos é justamente o único que NUNCA apostou nesse modelo.

  • 17. Logan  |  18/09/2009 às 14:19

    Só digo uma coisa, lembrem que Paulo Carneiro prometeu afundar o falecido, e está cumprindo perfeitamente!
    Vejam só (07/09/09):)

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