Rufam as trombetas do apocalipse vermelho

Prepare-se: dia 19 de abril, no Beira-Rio, está lista, pronta para aparecer, mais uma das grandes tragédias da história do Internacional. O Inter só precisa de um empate em casa para se classificar, e o adversário é o Emelec – mesmo assim, a equipe treinada por Siouxsie Juarez Roxxy fará o possível e o impossível para perder esse jogo. Como foi a partida de ontem, em Tuxtla Gutiérrez.

De clima de Libertadores, não tinha nada – musiquinha de BEISEBOL quando a bola parava; estádio praticamente vazio; uma charanga típica mexicana atormentando os ouvidos; sol e calor de uma TARDE em Chiapas – o Inter foi massacrado pela sua própria incompetência. Isso foi comprovado especialmente no primeiro tempo, quando o Inter demorou 30 minutos para dar o primeiro chute a gol, com meias muito afastados do ataque.  Apenas Zé Roberto, o Paulo Diniz desta geração, tentava reativar Fukushima com uma manivela.

Não havia pressão nem adversário – o Jaguares de Chiapas só tem um goleiro bom e Damián Manso; os demais, lutariam pela titularidade no Inter de Santa Maria. Mesmo assim, o Inter não conseguia moldar o jogo ao seu dispor. Excesso de preservação por conta do calor? É uma boa desculpa. Na prática, o que se via eram os mesmos defeitos que foram vistos desde 2009, antes de Fossati, antes do próprio Roth: um time muito distante do gol, isolando o atacante, sem pressa nem volúpia de chegar.

Em uma divagação, pensei se a diferença toda não estava em D’Alessandro. Sabemos que D’Alessandro, embora seja amo e senhor do meio campo do Internacional, não é um jogador vertical, que joga pensando no gol, como são Montillo e Conca – ele arma o time inteiro, dá passes, facilita as jogadas, mas a definição não é o seu forte. Todos os treinadores que colocaram Andrés como figura central do seu time tiveram o mesmo problema: colocaram um excesso de gente atrás e quase ninguém na frente para levar a bola até a área adversária. Giuliano facilitou isso na era Fossati; Taison, nos quatro jogos de Roth. Hoje, Roth tenta fazer isso em Zé Roberto e reluta em fazê-lo em Oscar, que estava posicionado ao lado de D’Alessandro e sumiu.

O jogo tinha cara de crime. Um time sem ímpeto, jogando contra uma equipe inqualificável num ambiente estranho. O crime veio quando a avenida Nei deu espaço a mais um Speedy González e a bola chegou a Hulk, que deu um corte em Índio, 35 anos, e fuzilou Lauro. Aí, vieram as características principais de um time de Roth: o defensivismo descabido (ainda jogavam 8 atrás da linha do meio do campo com 1×0 contra no placar), a afobação para definir os lances (provavelmente inspirada nos berros que vinham da casamata) e a fritura em fogo alto dos jovens (o primeiro a sair, para entrada de Sobis, foi Oscar).

Tudo isso coroado com a genial substituição de Mario Bolatti, que tinha uma boa atuação, por Wilson Mathias, esse gênio da ponta esquerda. Wilson Mathias, um injustiçado pelo futebol e pela torcida, opção primeira de Roth para resolver qualquer partida, tentou mostrar a habilidade de Lula e de Rivelino que sabemos que ele tem, posicionado com a sua camisa 8 na ponta esquerda ao lado de Kléber. Infelizmente, fracassou, mas sabemos que foi apenas uma jornada de má sorte, pois nenhum outro jogador tem mais talento que Wilson Mathias para decidir um jogo em favor do Inter.

A tragédia está montada. Temos o palco, a platéia, o roteiro e os personagens. O Inter precisava de um empate ontem e precisará de um empate contra o Emelec, em casa, no Beira-Rio – e o Emelec é um time um pouco menos ruim do que o Jaguares de Chiapas. Tudo que a Empresa Elétrica do Equador precisa é aproveitar os pontos fracos de um time de Celso Roth, se botar a pressionar o Inter no seu campo, aproveitar a avenida Nei e a travessa Índio. Não precisa de muito mais que isso para chegar à próxima fase, e submeter o Inter a uma das 10 maiores tragédias da sua história.

Rufando trombetas,
Luís Felipe dos Santos