De: R. de S. Faria Para: Ronaldo de A. Moreira

Peixe,

Agora que vou pro Congresso Nacional, pretendo largar de vez o sonho de fazer 2 mil gols. Porém, não posso deixar de dizer para você algo que estou pensando desde 2006, mais ou menos. Como sempre que eu ligo quem atende é a tua irmã Deise, ou o teu irmão Roberto, digo isso por carta mesmo, vai que você lê em algum momento.

Li por aí que você quer voltar ao Brasil, para Palmeiras, Flamengo ou Grêmio. Até que enfim!

Essa é uma decisão que você deveria ter tomado há pelo menos quatro anos, depois que deixou de ser o melhor do mundo no Barcelona, concorrendo com aquele baixinho chamado Messi. A Copa miserável que você fez na Alemanha – convenhamos, você jogou muito pouco – deveria ser o alerta que faltava. Eu entendo que não daria para desperdiçar tanta grana e tanto prestígio, tanto que você ainda conseguiu cavar uma vaga no Milan. Só que agora, você precisa admitir duas coisas:

A primeira: você não está jogando nada. E você não vai jogar nada no frio da Itália, nem contra o Siena, nem contra o Bologna, nem a favor do Bologna. Você era um azougue pela ponta esquerda, os laterais tremiam, os zagueiros se cagavam, os goleiros rezavam. Você foi para o meio, voltou para a ponta esquerda, olha para o lateral adversário e dá um passe para o lado. Esse não é você. Esse é um Ronaldinho cagão, que é infeliz e não joga nada.

A segunda: você precisa ser feliz. Quando você tenta ser feliz, faz isso da maneira errada. Veja bem, peixe: o problema não é você não treinar. O problema é que quando você não treina, tem 10 rapazes querendo a sua vaga no time, e mil torcedores querendo que eles entrem. O problema é quando você não treina e não corresponde dentro de campo. Aí você segue tentando fugir da dura realidade e é infeliz. Peixe, você foi um gênio, mas agora é um burocrata. Se a única coisa que sabe, além de pegar mulher em festa, é jogar futebol, é imprescindível ser feliz jogando futebol. Você não precisa mais de grana nem de prestígio: só precisa buscar de novo a felicidade.

É por isso que essa decisão de jogar no Brasil já deveria ter sido tomada há muito tempo.

Em 1995, eu era o melhor jogador do mundo, mas levamos um sapeca iaiá do Milan e passei a ser contestado. Ganhei a Copa do Mundo, mas em Barcelona não queriam nem saber. De forma repentina, talvez até exagerada, decidi que o que eu precisava era de praia, mulher e alegria ao jogar bola. E fui parar no Flamengo.

Eu nunca tive um irmão para cuidar de tudo na minha carreira. Quando tinha 20 anos, não disseram para mim que era primeiro a Espanha, depois a Itália, depois ganhar dinheiro na Inglaterra. Quando fiz 21 anos, não tinha 20 milhões de dólares na conta: tinha o Vasco, o Verão da Lata, uma prancha de surfe, o Roberto Dinamite de parceiro e uma série de problemas na Vila da Penha. Dois anos depois, não fui campeão do mundo: mal conseguia me firmar na Seleção.

Mesmo sem tudo isso, fiz mais de mil gols, sou um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro e mundial, ganhei uma Copa levando praticamente o time nas costas e sou adorado por quase todas as torcidas do País. Me ralei muito, peixe, mas decidi há 15 anos que acima de tudo queria ser feliz. Joguei no ‘pior ataque do mundo’, passei quatro anos sem ganhar nenhum título importante – na finaleira ainda veio uma Mercosul – mas olha, peixe, fui muito feliz. E ainda sou.

Se você não parte mais para cima do zagueiro como sabe, não é por que está gordo ou por que o time não ajuda. É por que você não é feliz. E é isso que precisa buscar para voltar a jogar o futebol que conhece e, quem sabe, liderar o Brasil ao Hexa em 2014.

Vem pra cá, peixe. Vem logo. Mesmo que tenha demorado, a tua torcida vai te receber de braços abertos.

Grande abraço,

R11