Retrospectiva 2010: Menos por amor, mais por obrigação

Publicado originalmente em 13 de setembro de 2010

Isso não é um time, é uma causa. Por isso estou aqui, mesmo sem querer. Porque vocês tinham que ouvir a história da minha boca. Porque se comecei a falar de Santa Cruz no Impedimento, não posso parar de fazê-lo só porque me convém. Porque eu tenho que dar conta das merdas que invento. E também porque se eu não contar pra vocês porque o Santa Cruz perdeu de 2×0 do Guarany de Sobral e foi desclassificado da Série D, quem é que vai contar, né, gente? O Globo Esporte? A ESPN? Não, né? Então vamo.

A verdade é que um fim de semana que começou na fila do TRE, pisando no rabo do gato e tomando uma multa no trânsito não podia terminar bem. E um mata-mata que começou com o Santa Cruz vencendo o primeiro jogo por 4×3 e tendo levado dois gols contra do MESMO ZAGUEIRO, muito menos.

É, amigo. O primeiro jogo da segunda fase da Série D, no domingo 05/09, foi no Arruda, diante de CINQUENTA E UM MIL torcedores. E o Santa começou levando dois gols. Contra. Em vinte minutos. E do MESMO ZAGUEIRO (Leandro Cardoso, guarde esse nome pra colocar na boca do sapo).

Ainda assim, nos 15 minutos finais do primeiro tempo, o time achou espaço pra marcar, empatar AND virar a partida. A etapa complementar serviu pro Santa aumentar e o Guarany encostar de novo, só pra dar emoção. O jogo terminou 4×3 e o Santa foi pra Sobral com a vantagem do empate.

Tinha jogador já fazendo as contas da classificação para a quarta fase, já que nessa, além dos cinco vencedores dos mata-mata da terceira fase, passam mais três por critérios técnicos (saldo de gols e outras mumunhas). Lembrando que ainda estávamos na segunda fase da competição, a um empate da classificação.

Pois que hoje, em Sobral, quem sonhava já duas fases adiante não deu conta nem desta. Ouvi pelo rádio, sofrendo na mão dos locutores que pareciam mais preocupados com o tempo seco e as próprias gargantas do que com a miséria que se dava nas quatro linhas. Série D é assim, meu amigo. Imagem do jogo é LUXO. Um patrocinador do Santa até financiou a aparelhagem para a transmissão via internet, mas a infraestrutura disponível no interior do Ceará não suportava o serviço. Bem vindo ao Brasil.

Ontem o Guarany fez dois, sem a colaboração dos zagueiros do Santa, e segue adiante no baile da periferia do futebol. Nada heróico, nada épico, nada apoteótico. Só um jogo da quarta divisão, diante de quatro mil pagantes, com o time mais equilibrado se mantendo na competição. O Santa SE DISTRAIU há três anos, caiu nessa arapuca que é a Série D e agora não tem fôlego pra sair.

A quarta divisão é uma solução friamente calculada e CALCULISTA: foi o jeito que a CBF arrumou pra deixar a Série C mais RENTÁVEL, ao manejar menos times. É também um jeito simples e eficiente de aumentar o funil e facilitar a vida dela, confederação: menos times relevantes, mais dinheiro concentrado. Se os times das série C e D forem acabando, o serviço dela fica mais fácil. Taí o Motoclube pra confirmar minhas suspeitas. E o Remo, também fora da Série D, pra reforçar meu temor. A sapecada do Santa no Botafogo na Copa do Brasil prova como as CASTAS do brasileirão podem ser injustas.

Há tempos, em alto e bom som, já disse aqui qual é a única solução que vejo. Continuar no esquema exige um esforço hercúleo e milhões de reais para continuar sendo tratado como time de segunda classe (quando e SE conseguirmos chegar à Série B) enquanto, dentro de casa, podemos ser reis.

Essa conversa já tá enjoada porque nada muda enquanto a gente faz tudo igual. O Santa vai ter que resolver sua crise existencial. Ou veste a carapuça de time da Série D (tão aí dois anos pífios que não me deixam mentir) ou rompe com o esquemão e cria a própria Série A pra jogar. Com cinquenta e um mil torcedores, em cima do muro é que não dá mais para ficar.

Catarina Cristo