Enquanto existir memória

28/11/2010 at 13:04 14 comentários

Uma das grandes discussões da historiografia é sobre a própria existência da História. Se a História existe, se pode ser explicada e até prevista, ou se tudo que sabemos não passa de discursos sobre a História. Parece complicado, mas a ideia é relativamente simples.

Ao mesmo tempo, famigeradas pesquisas apontam para o que todos mais ou menos já sabiam: nossa memória é pura ficção. Assim: todas nossas experiências são descartadas ou mantidas na memória, conforme sua relevância. Os fatos mais importantes, que lembramos com mais frequência, vão sendo lapidados e se transformam em belas histórias cada vez mais distantes do que realmente aconteceu.

Passei toda minha infância orgulhoso de ter saído ileso de uma incrível acrobacia com uma Caloi Cross: abalroado por outra bicicleta, dei um looping no ar por cima de um grande lance de calçada e caí seguramente em arbustos mais distantes. A necessidade de uma auditoria mais apurada veio junto com a crise existencial e o grunge dos anos 90, e desmentiu minha façanha. Tudo indica que atravessei a calçada e caí de maneira bisonha numas macegas.

Nós que apreciamos exageradamente o futebol sabemos bem o que é isso. Cheguei a apostar com um colega que a Juventus havia ganho do River em 96 com um gol de bicicleta no último minuto. A imagem estava viva em minha mente, e não havia chance de derrota. Dias depois fui desmentido por uma VHS, a tecnologia que prevalecerá com a derrocada do DVD.

No dia 26 de novembro de 2005, o Grêmio entrou no gramado dos Aflitos com Galatto, Patrício, Pereira, Domingos, Escalona; Nunes, Sandro Goiano, Marcelo Costa, Marcel; Ricardinho e Lipatin. Anderson, Lucas e Marcelo Oliveira também entraram, mas Marcel, Ricardinho, Lipatin, Escalona, Patrício, Domingos e Nunes saíram de campo, por motivos diferentes.

Desde então, quatro deles já foram expulsos milhares de vezes. Ademar partiu e até hoje está correndo para a bola, enquanto Galatto defende aquele pênalti todos os dias, todas as vezes. Anderson disparou, e pelos próximos anos segue pensando se “dibla ou não dibla”. O goleiro está sendo deslocado neste momento e a bola entrará no canto daquela goleira em Recife para sempre. Há cinco anos, o Grêmio que entrou no gramado dos Aflitos com este time continua lá, e lá ficará enquanto existir memória.

Antenor Savoldi

Entry filed under: Clubes, Colunas, Contribuições.

Diplomados em matéria de sofrer Decisão em três fronts

14 Comentários Add your own

  • 1. Vizzotto (Goleiro)  |  28/11/2010 às 14:30

    Mesmo que os líquidos drogativos lícitos destruam prate da minha memória, aquele dia e mais uns 20 ou 30, permaneceram ACONTECENDO!!
    Aguante Libertadores 2011!!

  • 2. JB  |  28/11/2010 às 18:03

    Catarina! Esse Avaí faz coisa, o istepô!
    Coisa quirida dois clássicos na séria A em 2011! Parabéns a manezada!

  • 3. Gerhardt  |  28/11/2010 às 18:41

    Dessarruma os parágrafos e bota o poema no livro do Impedimento.

    Ontem, embora a escassez de tempo, perdi o mesmo nos youtubes davida. INACREDITÁVEL.

    Assim como nossas chances de ir para a COPA.

    Até o dudinha já ta garganteando nas entrevistas pós jjogo. Ele tomou algo em campinas.

  • 4. Alemão o colorado  |  28/11/2010 às 18:52

    Porra já que teve post alusivo aos 5 anos da batalha dos aflitos.
    Porque não um dos 15 anos do Vice-Mundail completos hoje.

    ps. Parábens pelo aniversário.

  • 5. Eduardo  |  28/11/2010 às 19:02

    Sem jogar bem, Botafogo
    bate o Prudente e mira um
    ‘Olimpicazo’
    Capa do GE. Impressionante

    Teve varios times que ja
    tomaram um “olimpicazo”
    esse ano.

  • 6. LAEFarinatti  |  28/11/2010 às 19:10

    Bá… o chamamento pela História me fez começar a ler o texto… Era uma armadilha. Eu sou colorado. E sabe que gostei. Muito bom, parabéns!

  • 7. Bruno L.  |  28/11/2010 às 20:13

    NÃO ENTENDO como o Impedimento ainda não tem livro lançado com as melhores crônicas. Sério, não dá pra entender.

    Conteúdo se tem com sobra e qualidade. Só falta correr atrás mesmo.

  • 8. From_Mars  |  28/11/2010 às 21:32

    I’m from Mars and I have no fucking clue why so much fuss over the Aflito’s Battle.

  • 9. From_Earth  |  28/11/2010 às 22:59

    #8
    To understand that, you need to record an video saying “fish, ball, cat” very fast a few times. Then, upload on Youtube and post here, ok?

    This procedure will help you.

    peace

  • 10. Gabriel R.  |  28/11/2010 às 23:10

    Caralho, o que foi o jogo do avai? Espetacular! Ano que vem teremos o classico baiano e o catarinense na serie A e só 4 de sao paulo!

  • 11. Cunegundes Vaginildo Botelho Pinto  |  29/11/2010 às 00:55

    tenho um vhs da cicciolina e seu cavalo, quem quer? quack

  • 12. arbo  |  29/11/2010 às 12:19

    belo, Antenor

  • 13. douglasceconello  |  29/11/2010 às 20:55

    #7

    Bruno L., fique tranquilo. Estamos trabalhando nos bastidores.

    Lançaremos provavelmente na Festa da Tainha Assada, em Tramandaí, em 2023 (ns).

    udahudas

    Realmente, um baita texto, Antenor.

  • 14. Paulinho Dixon - dr_inter  |  02/12/2010 às 02:17

    Que texto !

    O jogo da idiossincrasia atesta a realidade por trás do MITO: GFPA, o BIPOLAR tricolor.

    Parabenizo o Autor, como parabenizei, sincera e comovidamente, anônimos Bipolares Tricolores na rua, naquele dia.

    _Parabens pela sua sobrevivência…! Da sua espécie, digo.

    Oh! Gre-Nau da aflição…
    A Nau Branca indo pro’alem
    timoneiro Negro… foice na mão
    E o morto, azul: não vai… nem vem.

    (…)

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