26.11.2005 em dois algarismos: 1 e 7

Não, não, não. Jamais iria fundamentar um texto sobre a maior data da década gremista (sim, essa data é a foto ESCARRADA do que foi a década tricolor) com o argumento que a soma de seus algarismos é 17. Ainda que tenha me dado conta disso durante a elaboração dessas tortas linhas, isso foi uma mera COINCIDÊNCIA. Também não sou daqueles que dizem que números me perseguem durante a vida. Já sabemos de casos hollywoodianos (23; Carrey, Jim) e outros tupiniquins (23; Arbo, Rômulo). Assim, descarto essa hipótese.

A bem da verdade, fiz essas associações numa das minhas andanças pelo Centro de Porto Alegre, imaginando que os festejos de 26/11 se aproximavam. Lembrei, assim como tantos outros gremistas, da tarde ensolarada, quente, tensa e com todos outros adjetivos bonitos que a tornem mais especial. Sempre que penso naquela tarde, vem à minha cabeça os títulos INACREDITÁVEL e 71 SEGUNDOS. O primeiro título é de DVD, o segundo é título de livro. E comecei atrelar os algarismos 1 e 7 a coisas do jogo. Assim, devaneio. Ou devo dizer, BATALHO.

7 – Esse é o número mínimo de jogadores necessários para que uma partida aconteça ou não seja interrompida. Tá lá a tal da Regra 3 do Livrinho do Arnaldo. Tá, e daí? Até aí nenhuma novidade. Fazer uma ilação desse tipo, por favor!! Calma. Prossigo. Acontece, senhores, que a partir de 26.11.2005, 7 passou a ser o número SUFICIENTE para o Tricolor da Azenha levantar um caneco. Nunca, leiam bem, NUNCA um time foi campeão com 7 jogadores. E não me venham com chororó que era 2ª Divisão. Nunca é nunca. Aqui ou em qualquer lugar. Na 1ª ou na enésima divisão. Foi naquela bendita data que 7 jogadores trajando o MANTO SAGRADO TRICOLOR realizaram um feito JAMAIS antes apreciado dentro das 4 linhas.

 

17 – A mágica dos algarismos insiste em fazer graça. O 17 nem número de camisa de titular é. Para alguns treinadores, quem usa a camisa 17 deve ficar trancafiado no vestiário, escondido, impedido de jogar futebol. Mas não naquela tarde,senhores. Aquela tarde guardava algo especial praquele guri que usava a 17. Quiçá, o único entre os milhares que estavam no estádio que entendia (e entende) da maravilhosa arte do ludopédio: ANDERSHOW. Aquela falta cavada com a malemolência moleque… Aquela cobrança rápida, marota, de quem entende do riscado… E o drible? Ahhhhhh, aquele drible… Vários e vários copos de SUCO DE CEVADA foram pra sei lá eu onde quando o piá deu aquele drible e empurrou a pelota pra dentro do gol. O Matador fazia mais uma vítima. Mais uma não. Centenas de milhares.

71 – Lembro de uma emissorazinha de TV transmitindo a volta olímpica do Santa Cruz, até então campeão. Tela repleta da festa CORAL, não fosse um quadrado minúsculo no canto superior direito da tela que obrigava todos os AFLITOS azuis a se amontoarem na frente da TV para acompanhar a preparação do pênalti a ser batido. Por obviedade, no momento da cobrança, o quadro se inverte para angustia dos gremistas: a tela cheia fez parecer ainda maior o porvir. Quando o juiz apita, é disparado, inconscientemente, um cronômetro invisível que só é parado quando o PREDADOR DA 17 afunda a tanga do Náutico. Nesse cronômetro está lá cravado o tempo de ida do desespero dos perdedores à loucura que se apodera dos Campeões: 71 SEGUNDOS;

1 – É, senhores, termino pelo primeiro número futebolístico, pois acredito que os argumentos mais fortes devem ser deixados para o final. E que ARGUMENTO! Sou suspeito para falar, uma vez que todos sabem que sou goleiro. O bom é que não sou qualquer goleiro. Sou o único BI CAMPEÃO da ImpedCopa. E, em ambas, pegando pênalti. Carregar a camisa mais pesada do futebol não é pra qualquer 1. E vos digo, senhores, qualquer goleiro, gremista ou não, reverencia a defesa de GALATTO. Não só pela defesa. Mas o contexto. 7 em campo. Um calor dos infernos. Torcida adversária ensurdecedora. Nervos à flor da pele. E aquele cara, ostentando a 1 do TRICOLOR DOS PAMPAS, calmo e sereno, lá no meio do gol, como se já soubesse tudo o que iria acontecer…

GALATTOOOOOO!!! GALATTOOOOOO!!! GALATTOOOOOO!!!

Isso foi o que se ouviu! Ou o que não se ouviu. Porque eu não escutava mais nada. Apenas pulava. Gritava. Chorava. E procurava o secador que estava na mesa atrás da minha, com um sorrisinho de deboche na cara. Claro que ele foi embora.

Certamente ele não viu, naquela tarde de 26.11.2005, o time da ALMA AZUL CELESTE, com 7 jogadores em campo, em 71 segundos, ter seu camisa 1 pegando pênalti e seu Matador com a 17 marcando o gol do Título. Mas garanto que, até hoje, ouve e por muito tempo mais ele ouvirá falar dessa história.

Colaboração enviada por Leandro Vizzotto.