O presente que não pode acabar

O que mais castiga o torcedor é que um jogo de futebol é um acontecimento INEVITÁVEL. Ele pode ser remarcado, adiado, atrasado, mas um dia ele acontece. E daí o martírio maior é o da IMPREVISIBILIDADE. Torcedores de todos os clubes já foram surpreendidos com as mais tenebrosas reversões de expectativa. No futebol da arquibancada, prova de caráter é ser pessimista.

Nem na época do Sarney eu fiquei tão nervoso quanto estou para o jogo de logo mais. O Internacional é favorito, mas me impressiona que seja grande o número de colorado que já abriu as portas da alma para a euforia incontida. No entanto, eu sou uma pessoa ARRAIGADA aos velhos costumes, especialmente aquele que diz que devo SOFRER como um bicho atropelado e que devo passar o dia imaginando os quadros mais DOLOROSOS e angustiantes.

Invariavelmente, quando chega a hora do jogo e a partida REAL, estou simplesmente paralizado pelo ABISMO da existência, aquela FENDA que separa a loucura ORGÁSMICA e sem sentido da conquista do título do MAL-ESTAR romântico pela FALÊNCIA moral que traz a mais inesperada inversão dos RUMORES do destino. Hoje, mais do que nunca.

Porque, quando o Internacional não ganhava nada, nos nos dirigíamos para o Beira-Rio acreditando piamente que reverteríamos um 0 a 2. Vencer era o lucro, o INOMINÁVEL, que é tão bom de se imaginar que nos deixávamos levar pela ONDA do improvável como se nadássemos solitários e determinados rumo à piscina de Hugh Hefner.

TUDO MUDOU. Hoje nos vemos desesperados porque o Internacional é um clube vitorioso e a simples MENÇÃO ao retorno fulminante de uma vida de derrotas nos deixa simplesmente detroçados. É como se aquiséssemos nos agarrar com braços, pernas, línguas e ENTRANHAS a um presente que nos DELICIA e cuja possível EFEMERIDADE é um pesadelo que faz a todos nós nunca mais dormirmos. É preciso que estejamos atentos como nunca estivemos.

No jogo contra o São Paulo, no Morumbi, quando o Internacional cedia aquelas faltas insossas ao lado da área, aparentenmente sem risco, tive um ataque de FRESCURA e resolvi não olhar para os lances. Obviamente, fui o culpado direto por Renan não ter controlado seu sistema nervoso e ter largado uma bola ridícula. Eu, que já havia encarado os momentos mais desgraçados e DETERMINANTES da vida do Inter, me negava a olhar uma jogada absolutamente ORDINÁRIA.

Daquele instante em diante, decidi que é preciso olhar tudo de frente. Nada será tão ruim como o que já presenciei, nada pode ser tão FULGURANTE quanto as coisas que já CAPTUREI com os meus olhos esbugalhados.

Só peço que façam isso e que confiem.

Saudações,
Douglas Ceconello.