Fossati tem que se demitir

Jorge Fossati tem que sair do Inter. De preferência, amanhã. Ou ontem. Não sou nunca a favor da demissão de um treinador – ele tem que se demitir, ir embora, deixar o FGTS de troco para o taxista. Fossati tem que ir embora porque teve o azar de pegar o Internacional como seu clube, e o Inter precisa sempre de grandes e vistosos times cheios de craques para ganhar qualquer coisa. Se não há nenhum craque, a culpa é dele. E se a culpa é dele, tem que sair.

Ontem errou mais uma vez, ao escalar três zagueiros. Ganhava o jogo com os três por coincidência: quando um saiu, perdeu. Vejam vocês que o Internacional é semifinalista da Libertadores, passando no regulamento por um adversário mais forte que ele, e a torcida e seus pares na imprensa chiam e reclamam como se o Inter estivesse na zona de rebaixamento do Campeonato Gaúcho. Isso porque o time não é vistoso. Faltam craques, como Falcão, Tesourinha, Héctor Hurtado ou Fernandão. Falta um símbolo, falta o gol com tabela de cabeça, faltam os pontas, as centenas de passes em frente ao gol para a conclusão de letra. O Internacional precisa disso. Sem isso, não vive jamais. O Inter é o Real Madrid dos pampas. Tem que jogar bonito. Dia desses, até pôs uma coroa.

Se o Internacional tem como ataque um jogador em formação – Walter – e um jogador medíocre que nos enganou quando estava em boa fase – Alecsandro – a culpa é unicamente do treinador, que ainda não conseguiu fazer com que eles sejam Messi e Luís Fabiano. Era obrigação do treinador colocar em campo Taison, contratar Fernandão, repatriar Héctor Hurtado. E além do mais, ele coloca três zagueiros em campo. Erro supremo. Dia desses, o Inter eliminou o campeão argentino em casa com um cruzamento de um zagueiro. Pena que naquele exato momento, deu um blecaute mundial e ninguém viu.

A arrogância da torcida, da direção e dos seus pares na imprensa é algo de curioso. O Internacional é um dos maiores clubes da América Latina, pela sua estrutura, quadro social e presença nos maiores cenários. Porém, tem um dos grupos de jogadores mais medíocres da sua história recente. Faltam os atacantes talentosos que surgiram aos borbotões nos últimos dez anos – e contratar um Pato ou Nilmar não é assim tão simples. O meio campo é muito bom, mas D’Alessandro não é decisivo como um dia foi Alex, ou seu compatriota Darío Conca. Andrezinho é um ótimo meia, mas lhe falta o brilho e os gols de 2009. A defesa tem alguns problemas que foram resolvidos nos últimos meses, mas Ibsen Pinheiro acredita que foi obra do espírito Emmanuel, não do treinador, e eu não posso discordar de quem foi campeão de…de…enfim, o Google sabe. Há Nei, um lateral que tem todas as ferramentas, menos o cérebro. E Pato Abbondanzieri, que dia desses falhou, embora tenha crédito.

Mesmo sendo medíocre, porém, há time suficiente para ganhar a Libertadores. Pois a Libertadores não se ganha com grandes grupos e grandes jogadores – ela é ganha sabendo aproveitar bem os momentos decisivos. O último campeão da América tinha uma zaga composta por Schiavi e Desábato. Só isso explica muito.

A grande parte da torcida, entretanto, adoraria ver um time fabuloso, vistoso, verdejante, que faz tabelas de letra e lançamentos espetaculares de 80 metros a cada 10 minutos. A torcida do Inter depende dessa ilusão do “jogar bonito”. Sem isso, é só descontentamento, frustração e Sílvio Benfica enchendo o saco nos ouvidos por horas a fio depois de uma derrota em casa.

É por tudo isso que Fossati tem que se demitir.

Ele não sabe fazer milagres. Não sabe transformar um Sandro em Falcão, um Guiñazú em Batista, um D’Alessandro em Jair, um Andrezinho em Héctor Hurtado. Por não fazer isso, diz Ibsen Pinheiro, campeão de algo que o Google sabe o quê, ele tem que sair.

Pois que saia. Hoje, amanhã, ontem.

Ainda dá tempo de assistir os jogos da Celeste no Mercado Del Puerto. E a reserva naquele vôo para assumir o Equador em Quito ainda está de pé. Vá embora, Fossati. Deixe o Inter tentando se iludir com 1975 pelos próximos 40 anos. Quem sabe, um dia, surge uma outra Libertadores, para ninguém saber como ganhar.

Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos