O melhor é não esquecer

Antes de mais nada, é preciso que é difícil livrar-se das AMARRAS do passado. Muitas vezes encontramo-nos na condição resoluta de ESCRAVIDÃO, glorificando-o em cada RÉSTIA de memória digna de ser celebrada. Muito poucas passagens foram, de fato, brilhantes. Mas, filosofemos com a glória dos inúteis, o passar do tempo é um photoshop que alisa todas as rugas.

No futebol, as PINCELADAS do tempo são ainda mais edificantes, tranformam cada lance minimamente decente em um inigualável lampejo de gênio. Por isso os grandes jogos só alcançaram tal status dez anos depois. Os vultos não foram tão assombrosos assim em sua própria época. Apenas depois.

E é exatamente por isso que sou veementemente contra o retorno de Tinga ao Beira-Rio. Porque o Predador das classes pobres retorna para nos arrancar da redoma IRIDESCENTE do passado para nos arremessar em um presente sempre marcado pela desconfiança. Fui contra um possível retorno de Fernandão e nunca quis Gamarra de volta.

Bem poderia ser contra também por outros motivos. Ainda que seja o jogador inigualável que foi em 2006 – na verdade, metade daquilo já seria fenomenal -, o Internacional não precisa de um reforço para atuar na função de Tinga. Ultimamente, Muito ouvi que em 2006 Edinho jogava mais recuado para que o nosso rastaman saísse para o jogo como segundo volante. Brutal equívoco.

O melhor Inter daquele ano fulgurante teve Edinho e FABINHO nas primeiras funções. Tinga era meio-campista avançado, com total liberdade para chegar ao ataque. Hoje, jogaria como ANDREZINHO ou até mesmo D’Alessandro.

Mas chega de curvas. Fato é que Tinga faz parte de um passado GLAMOUROSO, repleto de lindas mulheres, salões iluminados e licores caríssimos. Bandeiras CARMESINS e fogos na noite. Mesas de mogno, lustres suntuosos e ENCOXADAS fugidias. Tinga está para a história do Inter assim como NANI VENÂNCIO está para a minha mão esquerda: uma doce lembrança.

E ambos devem ficar para sempre guardados na minha memória, para volta e meia aparecerem de forma fulminante quando já avança a madrugada e o sono se perdeu com o refestelo canino pelas ruas. Apensas para causar calafrios e trazer de volta uma beleza que certamente nunca será superada.

Desculpa, Tinga. Mas ainda é tempo de ir embora.

Saudações,
Douglas Ceconello.