A fortaleza que treme

05/01/2010 at 11:00 51 comentários

Por Iuri Müller

Quando se tenta reconstruir a história de um clube e não se dispõe exatamente de muitas fontes (havia uma entrevista marcada com um tal Riograndino Leal e só), apela-se, de pronto, para a sua maior representação: o estádio e as suas cercanias. Sabíamos do valor histórico da Vila Honório Nunes mas seus traços até então eram apenas imaginários: “uma grande ladeira que acabará em uma cancha antiga, d’onde se ergue um bonito pavilhão com cadeiras ainda mais antigas”. Neste palco, ainda um aglomerado de arestas imprecisas na memória, o Grêmio Santanense viveu os dias mais gloriosos de uma rica história – que só poderia ser contada estando, ao menos uma vez na vida, na Vila Honório Nunes.

Já em Livramento, a primeira impressão é a de um abandono contestado, sobre o qual se exerce alguma resistência. Não há o mais remoto vestígio de vida futebolística na grande área que o Honório Nunes ostenta nas entranhas da cidade, longe do fervor do Parque Internacional, da divisa com Rivera, dos free-shops e da movimentação comercial que por agora alimenta Santana do Livramento. Mas apesar da não-existência de camisetas vermelhas estendidas em um varal, dos ruídos da pelota e do burburinho característico de um quadro que respira, alguns sinais indicam que o Santanense se debate e não quer morrer. Mais tarde, saberíamos que alguns dos remanescentes de outros tempos ainda investem nessa possibilidade.

Na cancha, nada de onze jogadores para cada lado, onze do Grêmio e onze do 14, talvez, que é o rival de todas as horas, mas que poderiam ser onze atletas do Fluminense, do Armour, do Ferrocarril, do São Borja, do Bagé e de outros tantos representantes do futebol fronteiriço que já pisaram naquela grama – grama que, surpreendentemente, não está alta. Mas o guardião da Vila Honório Nunes não é mais um arqueiro intransponível, um zagueiro levantador de taças ou um volante que não acerta jamais a bola em uma dividida: hoje, um cavalo melancólico troteia pelas dimensões da área, se exercita na meia-cancha e, ao fim de uma longa jornada de caminhadas, descansa debaixo do arco que, outrora, atraía todas as visões do antigo pavilhão quando da iminência de um gol.

Outro aspecto vital, mais além da grama, sugere a sobrevivência. Há um vaivém humano no interior do estádio. Atrás de uma das goleiras, residem os responsáveis por marcar o território do Grêmio Santanense. Complexo é decifrar o significado desta proteção. Riograndino Leal, um dos poucos insistentes que sonham com um Grêmio atuante, aponta que foi Luiz Paulo Dutra, o eterno mandatário do clube que alega ainda ser o presidente do Grêmio, quem designou os caseiros para a área do Honório Nunes. Tudo para garantir a posse do terreno que, dizem, poderá ser usado para outras funções – de modo que esse sinal de vida não é exatamente promissor.

Mas também as motivações podem ser encontradas no concreto desgastado do estádio. É só escalar os degraus do pavilhão, enveredar para o lado direito das tribunas e espiar para o horizonte que se queda atrás da construção. Do alto do estádio do Grêmio Santanense, se enxerga o João Martins, a fortaleza do 14 de Julho, clube que segue em atividade. O 14 não tem obtido campanhas fantásticas na Segundona, mas está garantido na competição para o ano que vem. Mais além do futebol, se gaba de manter uma estrutura social importante, com piscinas e atenção a outros esportes em sua sede. A resistência do rival, que não pode exibir na camiseta a mesma estrela de campeão gaúcho, serve como uma provocação positiva para a volta do Grêmio. O olhar desde o pavilhão deverá ser atento, disposto a compreender a organização do rubro-negro.

Hoje o Honório Nunes é um cenário inerte, castigado pelo vento e dependente das resoluções dos homens que travam peleias pelo futuro do Grêmio colorado. Mas nem a ausência completa e quiçá eterna de futebol pode silenciar uma cancha que ouviu muitos gritos. Basta sentar em uma das antigas cadeiras nas quais os colorados de antanho vislumbravam as partidas do campeão de 38, de onde Amália assistia às atuações de seu e pai e para onde Alvim apontava com o braço direito, oferecendo mais um tento seu. Quando se mira o campo, se enxerga futebol. E se torce, com esperança funda, para que a ladeira que leva ao estádio seja novamente ocupada por colorados fanáticos, que rumam em direção a mais uma partida do Grêmio Santanense.

Riograndino Leal e a sua milonga triste

Por Maurício Brum

“A madrugada não se acorda pros meus olhos / que estão pasmados no negror da noite fria / eu não consigo desquinar meus pensamentos / e nem dos galos posso ouvir a cantoria. / O que me vale é o bichará cardado a gosto / que amorna o catre neste agosto que se alonga / pra reaquecer o coração encarangado / que só se acorda com acordes de milonga”.

Quando o santanense Adair de Freitas reverberou nos palcos de Uruguaiana com a canção De Geadas, Milongas e Saudade, na XXII Califórnia da Canção Nativa, o Grêmio da sua cidade natal começava o último dos seus bons períodos. No ano anterior, o alvirrubro de Livramento havia conquistado o acesso à primeira divisão do Rio Grande. No ano seguinte, faria sua melhor campanha após o retorno à elite, chegando ao octogonal final do Gauchão e tendo no atacante Mauro o artilheiro do certame (19 gols). Estávamos em dezembro de 1992 e as palavras gélidas de Freitas, apresentadas em público pela primeira vez, não faziam qualquer analogia ao momento do Grêmio. Hoje, parecem ter sido escritas prevendo a atualidade do clube.

Os corações dos torcedores santanenses, encarangados por anos sem futebol, só se acordam ao som de milongas antigas tocadas pelos que tentam reviver o time. Um senhor de cabelos brancos como a geada, radialista e colaborador do futebol local, é o mais empenhado nesse sonho. Riograndino Leal deve o curioso prenome ao coronel do Exército Riograndino Kruel, um carioca que comandou a guarnição de Livramento certa vez. O sobrenome, mais do que herança familiar, pode ter sido predestinação. Riograndino, o natural de Santana, foi leal ao seu Grêmio a ponto de exercer praticamente todas as funções imagináveis no clube.

“Eu sou um ex-diretor, ex-vice-presidente, ex-diretor de futebol, ex-treinador. Eu sou ex-tudo lá”, diz. Ou quase tudo. Há duas coisas que ele nunca foi: jogador, por falta de futebol, e presidente, porque um homem se eternizou no poder gremista. Luiz Paulo Dutra, até hoje considerado por muitos o presidente do Grêmio Santanense, estava ao lado de Riograndino na época em que Livramento se uniu para trazer de volta o alvirrubro, afundado em tempos de ASPERMIA desde os anos 1970. O time ingressou na Terceira Divisão Gaúcha em 1985, e no fim do ano subiu apesar da campanha mediana, porque o campeonato foi descontinuado pela Federação Gaúcha.

Em meio às estradas que conduziriam o time ao vice-campeonato da Segundona em 1991 e ao consequente acesso, Leal e Dutra tiveram o primeiro dos seus muitos desentendimentos. Insatisfeito com o modo como o clube estava sendo levado, mantido quase que exclusivamente pelo máximo mandatário, Riograndino não mirou sucesso a longo prazo, deixou seus cargos, e profetizou: “o dia em que tu parar, o Grêmio termina”. Nas lonjuras os raios soltavam chispas, mas por ora Dutra não estava decidido a parar. O quadro de Livramento emendou sete temporadas seguidas na primeira divisão até ser enfim rebaixado, em 1998. Na queda, porém, ficou claro que se estava tirando forças de onde não havia mais.

A ingremidade da escarpa que o Grêmio desceu foi maior do que a de qualquer morrete visível no horizonte gaúcho ou uruguaio. Em 2000, o time já estava de volta à recriada Terceira Divisão. O rápido retorno ao segundo escalão no ano seguinte foi como o derradeiro momento de lucidez de um moribundo, e não um indício de retomada. Em 2002, após uma medíocre participação na Segundona, o maior clube de Livramento e único fronteiriço de fora de Bagé a ter se sagrado campeão gaúcho fechou o departamento de futebol profissional.

O Grêmio segue licenciado até hoje e, para voltar, esbarra no próprio estatuto. Apenas antigos sócios, conselheiros e dirigentes podem concorrer ao comando do clube – uma chapa precisaria ter vinte pessoas, e existem somente sete sujeitos nessas condições. Além disso, há as dívidas. Uma área de cerca de 1,2 mil metros quadrados do complexo do estádio Honório Nunes vai seguidamente a leilão para abater as contas cuja existência foi por muitos anos negada. Até agora, não apareceram compradores.

Riograndino tentou conversar com Dutra para montar uma Comissão, e através dela trabalhar para reconstruir o clube, formar um quadro social e renovar o estatuto. Nem faz questão de estar na diretoria, só almeja o Colorado atuando novamente. O ex-presidente adiou reuniões desde o fim do ano passado, Leal cansou de esperar e embrenhou-se numa peleja na Justiça, querendo definir quem pode votar e ser votado no Grêmio diante do cenário atual. Procurado para dar sua versão à reportagem, Luiz Paulo Dutra só fez contato telefônico uma vez. Falou da pobreza de Livramento para manter uma segunda equipe além do 14 de Julho, alegou compromissos que impediriam um diálogo ao vivo sobre o clube e esteve sempre indisponível nas tentativas de ligações posteriores.

Entre a inércia de Dutra, a lentidão da Justiça e a esperança de Riograndino de chegar a uma solução, o retorno do Grêmio Santanense soa mais impossível a cada ano. Os aficionados influentes parecem simplesmente não se interessar, afastando-se do debate. “O único que está fazendo alguma coisa sou eu”, lamenta Riograndino, que desiste de esperar apoio, mas não de lutar. Promete recorrer às últimas instâncias para rever o Grêmio em campo e, se não conseguir, vai levar os documentos do processo a público – “nem que eu tenha que ir pro Parque Internacional, botar uma mesa ali, e chamar todo mundo que queira olhar”. Quer deixar claro que empunhou uma guitarra até onde pôde, tentando reencontrar o som de cantos que no passado falaram de vitórias.

“Vem a saudade no meu rancho bater palmas / buscando achego pra viver amanunciada. / Eu vou abrir pra esta gaviona companheira / meu rancho pobre onde mora o desencanto. / Esta saudade, amiga antiga do meu canto / vai ser motivo pra que eu cante a vida inteira.”

Segunda e derradeira parte da fulminante reportagem de Iuri Müller e Maurício Brum sobre o Grêmio Santanense. A primeira parte nós já havíamos publicado.

Entry filed under: Clubes, Pela América.

A nova onda é o reumatismo Para o carrasco, nem um minuto de silêncio

51 Comentários Add your own

  • 1. Alexsander  |  05/01/2010 às 11:47

    Já saiu alguma coisa sobre o Guarany de Bagé?

  • 2. Prestes  |  05/01/2010 às 12:25

    MUITO DO CARALHOOOOOO

  • 3. Logan  |  05/01/2010 às 12:26

    Não é por nada não, sei que não tem nada a ver com o post, mas esse texto tinha que ser postado aqui: http://joaowainer.wordpress.com/2010/01/05/o-camisa-5/

    de arrepiar.

  • 4. TRICOLOR  |  05/01/2010 às 12:29

    Em Santana do Livramento, sempre fui Fluminense.

  • 5. Prestes  |  05/01/2010 às 12:34

    Estivesse vivo meu bisavô CHORARIA ao ler esta matéria. Ou estaria lá apoiando o Riograndino.

    Seu Nicolas Prestes foi cartola do Grêmio Santanense até ficar decrépito.

  • 6. Prestes  |  05/01/2010 às 12:36

    Aquela foto do cavalo na cancha é totalmente SENSACIONAL!!!

  • 7. Francisco Luz  |  05/01/2010 às 12:44

    Sensacional. Queria visitar os campos do Grêmio e do 14 na minha passagem por Livramento, mas não tive tempo.

    Excelente reportagem.

  • 8. Iuri  |  05/01/2010 às 12:55

    Triste é que a existência do Grêmio parece datar de CINCO DÉCADAS atrás. Em Livramento, todos falam com nostalgia de um tempo que parece ser muito remoto. Poucos conservaram uma camiseta do clube, inclusive, de modo que a que aparece na primeira e na segunda parte da reportagem é MINHA, herdada da minha BISAVÓ. Tanto Alvim quanto Riograndino ficaram estarrecidos com o MATERIAL, raro na cidade. Valeu muito a pena ter ido a Santana para ver o que ainda resta do Grêmio.

  • 9. Lucas Cavalheiro  |  05/01/2010 às 12:57

    Não li tudo ainda, mas corri pra cá pra dizer o mesmo que o #6

    Tá mandando bem nas fotos, heinhooo?

  • 10. dante  |  05/01/2010 às 13:00

    bá, iuri [e maurício] mais uma vez sensacional [ais].

    bela reportagem, ótimo texto, excelente foto.

  • 11. Luís Felipe  |  05/01/2010 às 13:48

    bah.

    sem palavras.

    sensacional e acima de tudo, emocionante. Acho que em nenhum lugar a música nativista cala tão fundo quanto na fronteira. É só colocar um pala para se abrigar do minuano que vem todos os bumbos legueros na cabeça.

    sensacional, mesmo.

  • 12. rafael botafoguense  |  05/01/2010 às 14:01

    AJAXXX

  • 13. Maurício Brum  |  05/01/2010 às 14:32

    Acredito que o mais emblemático tenha sido sair do Honório Nunes em ruínas e, alguns metros adiante, encontrar um João Martins com portas abertas para PISCINAS TÉRMICAS. O contraste berra.

    E o Grêmio Santanense está num limbo tão terrível que depende quase que exclusivamente da memória de quem viveu o clube, pois parece ter existido num tempo sem escrita ou fotos. Conta-se na cidade que o Luiz Paulo Dutra teria recolhido muito material com ex-jogadores, torcedores e colecionadores pra lançar um livro sobre a história do Grêmio. Os registros saíram de circulação, mas o tal livro ainda não apareceu.

  • 14. m  |  05/01/2010 às 14:42

    que texto mais foda. parabéns aí, iuri.

  • 15. m  |  05/01/2010 às 14:43

    …e maurício.

  • 16. Alexandre N.  |  05/01/2010 às 14:55

    Realmente, o testo é muito bom. Mas o mais interessante mesmo é a ignorância. Quando ví a referência ao Fluminense, nem fazia a idéia de que você estava se referindo ao Fluminense baiano. Fiquei numa dúvida danada até matar a charada depois de ler o resto do texto.

  • 17. Manuel Barbeiro  |  05/01/2010 às 15:07

    Reitero. Seria possível um post sobre a Copa SP?

  • 18. Rudi  |  05/01/2010 às 15:09

    Alexandre, na verdade é esse aqui

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Fluminense_Futebol_Clube_(RS)

  • 19. Alexandre N.  |  05/01/2010 às 15:16

    #17

    Caceta! Uma versão gaúcha? Começo a achar nomes como Shallon-RO, Sorriso, ASA, entre outros nomes bem interessantes…

  • 20. Menezes  |  05/01/2010 às 15:44

    Torço pro ARMOR.

  • 21. Junior  |  05/01/2010 às 16:18

    Parabéns aos autores. O texto é fantástico e como disseram acima, emocionante.

  • 22. Lucas Cavalheiro  |  05/01/2010 às 16:19

    PRECISO CONHECER A HOLANDA. PRA ONTEM!

    Depois desse vídeo do #12, to em dúvida se gosto mais das Suecas ou das Holandesas.

  • 23. fino  |  05/01/2010 às 16:21

    estive lá e posso dizer

    essa mina é TURISTA

    lçasdfklsfdklasfdlçsdf

  • 24. Lucas Cavalheiro  |  05/01/2010 às 16:27

    Fino

    Se tu me disser que é SUECA, o meu MUNDO volta a fazer sentido.

  • 25. fino  |  05/01/2010 às 16:37

    eu diria que sim…

  • 26. fino  |  05/01/2010 às 16:44

    Your comment is awaiting moderation.

    duh

  • 27. Diogo  |  05/01/2010 às 19:22

    12.

    Já vi muitas dessa fazendo topless em Ibiza.[Nova Bréscia lá vou eu]. Aliás essa daí é Ucraniana e tem ascendência materna siberiana.

  • 28. Logan  |  05/01/2010 às 19:29

    O CAMISA 5

    Toda segunda-feira no Carandiru era dia de acerto de contas. Quanto mais longe do final de semana melhor para resolver as tretas pendentes na cadeia. É que fim de semana tinha visita e quando ladrão fazia merda na véspera, a entrada dos parentes e amigos era suspensa no ato. Quando a merda acontecia na segunda, dava tempo da direção esquecer até chegar o sábado. Essa era a rotina da maior cadeia que já existiu na América Latina, abrigando em sua lotação máxima 8 mil presos.
    Aquela segunda, alem de ser o dia de acerto de contas era dia de clássico no campo do pavilhão 8 e só se falava sobre isso na Detenção. Dois times tradicionais duelavam pela final do campeonato organizado pela FIFA (Federação Interna de Futebol Amador), na época presidida por meu amigo Monarca, um dos presos mais antigos e respeitados do Carandiru. Todos os olhos da cadeia estavam voltados para aqueles 22 jogadores. Na beira do campo, momentos antes de começar o jogo, uma roda de samba animava a bandidagem regada a Maria-louca e muita maconha. Senti falta da câmera de vídeo quando os presos cantaram “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.
    Na condição de visita, logo consegui um lugar no banco, atrás da linha de fundo.
    Ao meu lado, sentou o Paraíba, um negro alto, magro e de bigode farto com quem eu sempre conversava bastante. Era um típico “cabra-da-peste”. Dizia que nunca roubou, não gostava e nem tinha talento para isso. “Só de pensar em roubar alguém minha mão começa a tremer. Não acho certo. Meu negócio sempre foi mesmo matar. Acho que nasci pra isso. Odeio ladrão” dizia com uma naturalidade estonteante.
    O jogo seguia equilibrado, com muitas faltas e poucos gols. No meio do segundo tempo, Paraíba me cutucou e disse: “Ta vendo aquele cara ali, o camisa 5? Vai morrer hoje a noite”. Levei um susto, engoli seco, controlei os nervos e perguntei despretensiosamente, fazendo de conta que tinha ouvido algo normal, o por que do assassinato? “Treta de cadeia, já tá condenado mas ainda não sabe” disse sem dar mais detalhes.
    Não consegui dizer nada. Parei de fotografar e perguntar pra ficar olhando o cidadão com a camisa 5 que corria dentro do campo. Era a primeira vez que via um morto jogar bola. Muitos outros ali já sabiam que aquela noite haveria sangue.
    Homicídio no Carandiru era um acontecimento. Havia um julgamento e depois da sentença, o cara que ia morrer era colocado ainda vivo em uma cela e esperava igual a um porco no matadouro a hora da morte. Não adiantava gritar. Diziam que a maioria ficava em silencio. Um preso da faxina chegava com água, sabão, balde e rodo e deixava ao lado da cela. Assim que levava a primeira estocada, o sangue jorrava e começavam a limpeza. Vagabundo não gosta de sujeira na cadeia. Quando parava de se debater, o morto era puxado pelos pés e levado para a porta do pavilhão. O rastro de sangue que ficava era limpo na hora pelos responsáveis pela limpeza. Na hora de descer a escada, o barulho seco da cabeça desfalecida batendo nos degraus era ouvido de longe no silencio cortante do pavilhão.
    No dia seguinte, algum preso endividado ou com uma pena centenária assumia o crime. Algumas vezes mais de dez assumiam a morte. Na lei, quando mais de dez matam na cadeia fica caracterizado motim, e ai ninguém é punido.
    Sentado ali na beira do campo assistia ao morto vivo jogar bola. Imaginava cada etapa do assassinato. Pensava no que fazer com aquela informação. Gritar, avisar o cara, a direção do presídio, a policia? Meu cérebro entrou em parafuso e não fiz nada. Fui embora como se não soubesse daquilo. Nada do que eu fizesse mudaria o destino que se desenhava para aquele camisa 5. Conheço bem o parágrafo primeiro na lei da favela. Boca fechada sempre. Não sou louco de desrespeitar, mas não dormi direito aquela noite. Toda a seriedade que falta na justiça brasileira sobrava no Carandiru. A lei da cadeia é cruel e implacável, não existe apelação nem Supremo Tribunal Federal. Ao contrário da rua, as sentenças eram invariavelmente cumpridas na cadeia.
    No dia seguinte voltei pra Detenção e na portaria me informaram que não poderia entrar pois houvera um homicídio na noite anterior. Sentei na calçada e lembrei daquele camisa 5 correndo atrás da bola. Não o conhecia, não sabia seu nome, porque estava preso nem a quantos anos foi condenado. Não quis saber. Sabia apenas que aprontou alguma e foi punido. Aquele volante raçudo era bom de bola e peça importante no time, tanto que esperaram o campeonato acabar pra manda-lo embora pro inferno.

  • 29. rafael botafoguense  |  05/01/2010 às 20:34

    ela é holandesa,pois eu achei o vídeo portanto eu decido a nacionalidade dela.hhaaha

  • 30. rafael botafoguense  |  05/01/2010 às 20:35

    zagueiro Emerson rescinde e acerta com o Avaí.

    hihihihihih catarina em prantos.

  • 31. zobaran  |  05/01/2010 às 22:37

    Sensacional. Minha AVÓ está pelas bandas de vocês (ela é desse cantos) e tô quase pedindo para ela dar um CHEQUERAU no time local de São Gabriel e escrever um post para o Imped. Nem sei se tem time lá…

  • 32. Prestes  |  05/01/2010 às 23:08

    Tem sim Zobaran.

    Aliás um dos capítulos mais épicos do futebol gaúcho foi a vitória do São Gabriel sobre o Palmeiras numa Copa do Brasil, com direito ao goleiro defendendo pênalti. Dá um belo post, hein?

  • 33. Logan  |  05/01/2010 às 23:14

    o comment 28 não sou eu não hein, ai ai, cada uma.

  • 34. Pai Gallo  |  06/01/2010 às 00:18

    Internacional perde a libertadores 2010.

    Com um goleiro que chora a morte do “cachorrinho”. DEfinitivamente, nao ha esperanças

  • 35. douglasceconello  |  06/01/2010 às 00:31

    Bah, texto NOVAMENTE em chamas.

    Iuri e Maurício comandando a boca, definitivamente.

  • 36. douglasceconello  |  06/01/2010 às 00:44

    Caro PAI GALLO, discordo.

    Isso mostra LEALDADE, logo comprometimento, logo Colorado campeão da América, logo EU BÊBADO E PELADO NO TELHADO DE NOVO.

    suhsuis

  • 37. Pai Gallo  |  06/01/2010 às 02:07

    Eu acho que esse Lauro tem é muita lealdade com os animais mesmo.

    Além dos cachorros, ele gosta muito de FRANGOS

  • 38. Rudi  |  06/01/2010 às 08:16

    cara que cita FERNANDO PESSOA no BG de seu twitter não pode ser levado a sério…

    URGE um novo goleiro

    vem, AGENOR

  • 39. guihoch  |  06/01/2010 às 08:27

    quantos pixel tem essa canon Iuri?

    MELHOR BLOG, MELHOR JUNÇÃO DE CABEÇAS

    PAULISTAS EM CHAMAS É NOSSA ESPECIALIDADE

  • 40. Alexandre N.  |  06/01/2010 às 08:50

    Olha, depois de ver as fotos dessas suecas, bateu de novo uma velha indignação… POR QUE DIABOS A MARTA RESOLVEU PARAR DE JOGAR NA SUÉCIA?!!?!??!?!?!!??

    Faço esta pergunta por que, todo ano ela vinha passar o carnaval aqui no Rio de Janeiro, acompanhada de, NO MÍNIMO, umas cinco suecas do mesmo naipe (ou até melhores) dessas aí das fotos.

    Bons tempos aqueles…

  • 41. Prestes  |  06/01/2010 às 10:30

    O Lauro tomou UM frango em um ano e meio como titular do Inter. Já demonstrou que não se caga em diversas situações.

    Goleiro tem q ficar cinco, seis anos como titular do clube. Não se acha goleiro da noite pro dia. Boto um desses guris aí de titular tu vai ver só como vão fazer merda. Goleiro com menos de 25 anos não presta.

  • 42. Rudi  |  06/01/2010 às 10:37

    não acho Lauro ruim, mas acho que ele é LITERÁRIO demais…

    futebol >>>>>>>>>>> qualquer forma de cultura

  • 43. Prestes  |  06/01/2010 às 11:14

    Tá certo. O Tostão não jogava nada.

  • 44. Rudi  |  06/01/2010 às 11:34

    Gérson (pra ficarmos na mesma época) jogava mais

  • 45. Alexandre N.  |  06/01/2010 às 12:55

    #41

    Bom, isso de um goleiro ficar muito tempo no clube pode ser uma faca de dois gumes. Quer um exemplo bom pra isso? O Fernando Henrique, do Fluminense. É um goleiro muito merda. MAs como faz média com as organizadas, virou xodó (delas). E graças a isso ainda sou obrigado a aturar aquela praga no time…

  • 46. Prestes  |  06/01/2010 às 13:34

    É goleiro ruim é foda.

    Mas mesmo nós com o Clemer ganhamos vários títulos. E o FH obteve o melhor resultado do Fluminense em Libertadores.

    Goleiro é muito sequencia e entrosamento com a dupla de zaga.

  • 47. Prestes  |  06/01/2010 às 13:35

    A propósito do post. Muito afudê essa tua camiseta do Grêmio Santanense, heinho Iuri???

    Me arruma DUAS DESSA, hudfhfsduhfsuhsdushsdfhu

  • 48. Iuri  |  06/01/2010 às 13:55

    guihoch:

    a câmera é uma Sony DSC-H10 de 8.1mp. mas tem o tal modo esportivo, de modo que se torna muito CUMPRIDORA.

    prestes:

    a camiseta do Grêmio Santanense divide com as do Liverpool do Uruguai e do Defensor MANGA LONGA o posto de artefato mais valioso da CASA hudauwqydhqwdwq

  • 49. Alexandre N.  |  06/01/2010 às 14:17

    #46

    Tudo bem. Mas o que mata é que o puto do Fernando Henrique está no Fluminense desde 2002 e desde essa época ele só teve dois bons momentos no ano: a Copa do Brasil de 2007 e a Libertadores de 2008 (que eu nem achei que ele foi tão espetacular assim. Na minha opinião ele foi um goleiro normal).

  • 50. Gonza  |  29/03/2011 às 02:08

    Muito boa a matéria, sou de Santana do Livramento, e aqui sou Grêmio, sem nem mesmos aber o porquê, ja que vi pouco o time em ação!

    Como eu disse, a matéria é mto boa, porem muito triste!

    Eu não quero morrer sem antes ver um Gre – Qua! 😦

  • 51. paulo roberto teixeira  |  02/05/2011 às 16:49

    gente…sou jogador do riograndino leal quando iciamos em 1985,zagueiro na epoca meu nome TEIXEIRA….cortamos a grama do campo entre outros jogadores ramaõ…antonio ari..padula…zeca…e nós jogamos a terceira divisaõ na epoca..e subindo com o clube até disputar a primeira divisaõ..é triste para mim ver este cavalo na foto,no campo deserto,sonho sim reerguer este clube….como na epoca fizemos uma reuniaõ com riograndino seu lazaro preparador fisico,que capinariamos o campo,jogariamos.e assim foi feito que legal era…espero ainda ver o time la em cima de novo…

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