Jogar para perder

A ideia corrente é que um time de 11 profissionais do futebol jamais entregaria um jogo deliberadamente. Eu também pensava isso até ler que Santiago Silva, hoje atacante do Banfield, admitiu que o Gimnasia entregou uma partida contra o Boca em 2006 para o Estudiantes não ser campeão argentino.

“Teníamos que ir para atrás porque íbamos ganando y el único que peleaba era Boca contra Estudiantes… Y bueno, teníamos que perder”, disse Santiago Silva ao Olé, revelando que se sentiu desprotegido na época porque o presidente foi submisso à pressão dos barras bravas. O mesmo jornal denunciou, na época, que os torcedores invadiram armados o vestiário para pressionar os atletas.

Essa afirmativa confirma uma suspeita e desarma outras tantas. A confirmação é que entregar um jogo, de fato, é uma pressão de torcedores que causa constrangimento para atletas. Diante de uma premissa dessas, entretanto, há como considerar as próximas duas rodadas do Brasileirão totalmente insuspeitas?

Até que ponto as torcidas de Corinthians e Grêmio querem que seus times entreguem os jogos? Qual a real possibilidade de uma influência maior de uma torcida organizada antes de uma decisão? O Grêmio ajudou o Internacional duas vezes e nenhum representante da Geral foi lá tirar satisfações. Com a disputa do título seria diferente? A Gaviões da Fiel poderia invadir um treino de sábado pedindo para Mano Menezes amolecer o jogo de domingo? Ele obedeceria?

Quando disse que esse tipo de desonestidade é da fórmula, Mário Sérgio foi exagerado, mas não totalmente incorreto. Exagerado porque a presença de times que não tem nada a ver com os resultados sempre houve em momentos decisivos – um exemplo clássico é que, não fosse o Gama descer 4 lenhas no Coritiba no último jogo da primeira fase, o Santos jamais teria sido campeão brasileiro em 2002. O fato, porém, é que os pontos corridos potencializam esse tipo de desídia – e o caso do campeonato argentino é exemplar. Ainda que não tenha adiantado nada, pois o Estudiantes foi campeão logo depois, em duas partidas contra o Boca.

Também é o caso de Danubio, Peñarol e Nacional. O Peñarol também foi pressionado em 2008 para entregar uma partida contra o Danubio no Hipódromo, pois um empate seu daria a taça ao Nacional. Mesma fórmula. O Peñarol perdeu, mas vendeu muito caro a derrota, o que indica que a pressão não foi suficiente.

Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos