Nós fomos vocês ontem

Como diria Tomas de Lampedusa, vamos mudar tudo para continuar tudo como está. Fluminense humilhado, sem títulos internacionais, Liga de Quito sapateando em seu estádio e levantando taça no Maracanã. Todo mundo já viu esse filme: quem não viu, tem reprise quarta-feira.

Quando anunciada a revanche,  todos se travestiram de Cléber Machado e pensaram “hoje não, hoje não”, ao sentar na frente da TV na noite de ontem. A prova de que a noite começaria caótica é o anúncio do jogo por Luciano do Valle, ícone da Bandeirantes, que resolveu chamar a partida para um canal rival logo aos 5 segundos de jogo (valeu, Fred):

O diacho é que a coisa parecia que seria boa para o Fluminense. O time começou bem postado no campo adversário e saiu com um gol, logo a um minuto. Fred leu o manual de  “como se portar na altitude” e arriscou de fora da área. Domínguez espalmou e Marquinho arrematou no rebote.

Depois, o Fluminense obedeceu os mandamentos de Collor, pegou o manual da altitude, engoliu, digeriu e fez o uso que achou conveniente. Se fechou atrás, mas dando espaços suficientes para o que seria a arma letal da Liga, os chutes de média e longa distância. O primeiro gol surgiu numa jogada engraçada: falta, um gandula malandro colocou a bola rapidamente em jogo. Enquanto os tricolores olhavam para a outra bola, o jogador da LDU botou a bola que recebeu no chão, parou com a mão e cobrou rápido a falta. Tocou para Méndez, caixa. Carlos Bilardo não faria melhor.

A imagem da TV depois mostraria o gandula malandro de touca, com uma bola nas mãos e um sorriso de PRETO VELHO, imagem ilustrada pelas reclamações e choros de Galvão Bueno. Coisa linda, admito.

Pouco depois, nova falta para a Liga, Méndez cobrou. A bola bateu na barreira e sobrou picando para ele, que desferiu um POMBO SEM ASA (também conhecido como BUCHA em Bagé) que repicou no travessão e deu vantagem no placar. 2 a 1.

Virou o segundo tempo e a cara de PAVOR nas hostes tricolores era evidente. Não por acaso, a Liga continuou passando a esquadra pó-de-arroz no moedor de carne, sem se preocupar com os nervos ou a capa de gordura. Tomado pelo mesmo cachimbo do exu que fez Bolaños ser craque em 2008, Méndez completou de cabeça um cruzamento no canto de Rafael. 3 a 1. A curra seguia impiedosa com um ataque de Franklin Salas, o anão que ganhou todas de cabeça de Danny Morais na Recopa. Pela direita, fuzilou e Rafael, claro, aceitou: 4 a 1.

Para completar a humilhação, Ulises de La Cruz, o desgraçado que foi sparring de Robinho no drible que levou uma infame placa no Maracanã, mandou mais um Tomahawk da meia-direita. Mais uma vez o Fluminense saiu humilhado e ofendido do Casa Blanca, só que agora, com cinco chicotadas no lombo e uma bola de ferro do rebaixamento no domingo.

Juca Kfouri, ontem, comentou que achava uma insanidade o Fluminense jogar essa partida com titulares, pois nunca conseguiria cometer os dois milagres ao mesmo tempo. Foi o prólogo de toda a cantilena “Sul-Americana atrapalha o calendário”, que vamos ouvir pelas próximas semanas em loop nos principais debates esportivos do País. Triste fim do Fluminense, triste fim do campeonato para os brasileiros. E lá vai a Liga emular Obdulio e levantar mais uma taça no Maracanã.

Que Ulises de La Cruz, pelo menos, cuspa na placa.

Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos