Quando o extraordinário se torna cotidiano

A volta de Fernandão a Porto Alegre era o fato extraordinário do domingo, tanto é que os colorados foram em número de 30 mil ao Beira-Rio, ignorando o próprio retrospecto de comparecimento ao estádio quarentão nas finaleiras de fim de semana. Mas é nessas horas extraordinárias que a força do futebol também está em sua vocação para a regularidade e a repetição.

Primeiro, que num esforço em demonstrar respeito ao ídolo e à cor vermelha ao mesmo tempo, a torcida do Internacional saudou o capitão na medida certa: com aplausos apenas antes da bola rolar e com vaias sempre que ele encostava na redonda. É que no futebol é assim: as amizades mais sinceras se desfazem no entrevero de uma cancha.

O esquema 3-5-2 armado pelo Pastor deu resultado, tanto é que o Inter marcou logo aos cinco minutos, num belo gol de Marquinhos, que nem foto tinha no placar eletrônico quando a escalação foi anunciada. Foi um dos destaques do Inter, apesar de em alguns lances priorizar a firula em vez de chutar a gol. Fabiano Eller na esquerda e Índio na direita atuavam como genuínos laterais, enquanto Kléber tinha mais liberdade e volta e meia era visto circulando pelo miolo do gramado, onde Guiñazu, Magrão e Giuliano atuavam com relativa competência. Edu, fora de forma, não fez boa figura, o que reforçou a idéia de que um finalizador como Alecsandro pode dar muito certo neste esquema.

Com o gol logo aos cinco minutos, todos nos preparávamos para um fim de tarde ONÍRICO na beira do Guaíba: havia um certo frisson (nada a ver com Daniel Frasson) quando a bola viajava na área e lá estava Fernandão. Num eventual gol dele era bem possível que as horas parassem – e nas arquibancadas muitos não saberiam como reagir.

Mas o árbitro Ricardo Marques Ribeiro, aos 13 minutos do primeiro tempo, nos fez voltar à realidade, mostrando que naquela extraordinária tarde se estava jogando futebol. E no futebol, hoje em dia, os erros de arbitragens são cotidianos e ficamos muito felizes quando um adversário é expulso, mesmo que seja nosso eterno capitão.

É só ver o lance para ver que Fernandão, apesar de ter os dois braços erguidos, dá é um COSTAÇO em Magrão. Se o juiz quisesse dar um amarelo, tudo bem. Expulsar Fernandão foi querer ser mais importante que os protagonistas da partida.

Assim que depois da expulsão o Colorado atropelou o Goiás – que foi perdendo alguns de seus melhores jogadores, substituídos por Hélio dos Anjos. Houve mais três gols, sendo que um deles foi um golaço de Kléber. Foi realmente extraordinário a alma torpe do Pastor não ter entrado em campo para recuar o time quando o jogo estava 2 a 0 (a expulsão de Fernandão deve ter lhe dado coragem). Poderiam ter sido mais que quatro, se não fossem algumas boas defesas de Harlei, destaque da partida por ser o último dos goleiros de calça no futebol brasileiro.

Na quarta-feira, contra o Atlético-MG, o Internacional poderá dizer à torcida se tem condições de habilitar-se ao título.

Um abraço,
Daniel Cassol

Fotos de Luciano Stabel, especial para o Impedimento.