A covardia do treinador gaúcho

Dos grandes times paulistas, o Palmeiras é o único que ainda não levou taça nos campeonatos de pontos corridos. Agora, com Muricy no banco, o glorioso alviverde imponente tem a maior chance da sua história. Pelo simples fato de concorrer com dois times treinados por Celso Roth e Adenor Bacchi, treinadores nascidos no Rio Grande do Sul – adeptos de um estilo COVARDE.

O treinador gaúcho é um covarde. Por isso, faz sucesso. O treinador gaúcho vai para o banco de reservas de fraldas, antes de ir a campo sempre com uma infinidade de volantes e/ou atacantes marcando atrás da linha da bola. De certa forma, isso encanta alguns dirigentes. O dirigente é um torcedor com poder de decisão – às vezes, portanto, ele imagina vestir um manto de autoridade que lhe faz superior aos reles mortais que torcem, simplesmente. Por isso, o mesmo dirigente que na arquibancada gritava “VAI PRA CIMA! SOBE! PASSA POR CIMA!”  hoje acha que o certo é ter alguém na casamata gritando “FICA! MARCA! GUARDA POSIÇÃO!”. Como ele não pode, paga salários de seis dígitos para alguém que o faça.

Não vou aqui falar de Oswaldo Brandão, João Saldanha ou Sylvio Pirillo. Não era nascido quando treinaram – além do mais, são de uma época na qual quatro atacantes era pouco. Começo falando de Ênio Andrade. Era pequeno, certo, mas lembro que morria abraçado com volantes casca grossa como Ademir Kaefer. Quando comecei a acompanhar futebol, o papo era sempre o mesmo: o time está perdendo porque a defesa não vai bem. Então vamos chamar alguém que resolve isso. Então apareciam Otacílio Gonçalves, Chiquinho, Cláudio Duarte, Cassiá Carpes, Zeca Rodrigues…todos recuando os pontas, escalando dois quebradores no meio campo e dando preferência para laterais que não avançam.

A essa hora, tu já estás abraçado na bandeira da Revolução (derrotada) Farroupilha e vociferando diante do monitor: “E o Felipão? O Felipão?”. Pois bem: Felipão era igualmente um covarde. Muitos torcedores palmeirenses dizem que a queixa com Scolari nada tinha a ver com a “volta da academia”, como bradava Ugo Giorgetti. “O Felipão era aquela coisa: deixava todo mundo com o coração na mão, botava todo mundo atrás com um gol de vantagem. Ganhava, mas quase nos matava de enfarte”, disse um famoso jornalista esportivo que nunca negou torcer para o alviverde.

Mesmo assim, Felipão foi campeão da Libertadores com Palmeiras e Grêmio. Como? Com dois meias, um lateral-ponteiro (Arce) e colocando atacantes em momentos decisivos (Euller e Evair entraram nos dois jogos finais da Libertadores de 99, p.ex.). Como explicar que um treinador nascido no berço dos treinadores covardes tenha tomado tal atitude? Talvez a explicação esteja na Guerra da Coréia. Vi certa vez um documentário sobre a referida guerra. Falava sobre um dos seus heróis, um cara que teria o nome de Audie Miller.

(Nota: não sei se é esse o nome do cara mesmo, porque a minha memória dessa época é meio turva. Eu posso estar confundindo, por exemplo, com a famosa atriz Aldine Muller. Esses dias, achei que a atriz principal de “Clube dos Cinco” era a MATILDE MASTRANGI, mas era a MOLLY RINGWALD. Então, perdoem.)

Pois o tal Miller foi considerado um dos principais heróis da referida guerra porque teria derrubado três trincheiras de soviéticos com apenas um fuzil. Um dia, perguntaram-lhe de onde tinha tirado tanta CORAGEM. Miller respondeu com sinceridade: “Do MEDO. O meu medo de morrer era insuportável. Não agüentava mais esperar por uma bomba na cabeça. Então, resolvi tomar uma atitude”. O caso do Felipão era o mesmo. Provavelmente com tanto medo de ser acossado pelos COLOMBIANOS, que todos sabemos que têm um ímpeto SUICIDA de atacar, ele resolveu entrar trincheira adentro com um fuzil, dois meias e dois atacantes. Já na época do advento de CELSO ROTH e seus três meias defensivos.

Aliás, falando em Celso Roth. Poderia assumir a liderança do campeonato com uma vitória sobre o Flamengo. Saiu ganhando. Começou a retranca logo aos três minutos de jogo. Permitiu a pressão rubro-negra por todo o primeiro tempo, até levar o empate. Quando pensou em atacar, já levava 3×1. Tite, no Inter, não é diferente. Com vantagens confortáveis, coloca o time inteiro para marcar atrás da linha da bola. Não por acaso, toma dois gols por jogo. A retranca que vaza é a pior retranca.

Muricy Ramalho, treinador do Palmeiras, é um adepto da retranca e contra-ataque. Só que nunca mantém todo o time atrás da linha da bola. Fecha a defesa, mas não se encolhe. É da escola de Telê, não da escola da covardia. Por isso, é favorito ao título.

Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos