“São Domingues? Cabe no meu bolso”, diz Ferdinando

Sujeito de rara habilidade para as letras, o nobre Franciel Cruz tentou nos convencer de que Leandro Domingues, um meia do Vitória, é o grande destaque do Brasileirão. Ledo engano, meu caro. Seja numa aldeia perdida na selva amazônica, num baile funk proibidão do Rio de Janeiro ou em uma singela roda de chimarrão no Rio Grande, muitos já comentam que o craque deste campeonato atende pelo nome de Ferdinando e veste a camisa 5 do melhor time da Série A nas últimas quatro rodadas.

Os números não deixam qualquer dúvida. Basta dizer que em 12 jogos Ferdinando cometeu 45 faltas, sendo o melhor em todo o campeonato neste que é o principal fundamento do futebol. Ele está à frente de vários jogadores mais paparicados pela mídia puxa-saco do eixo do mal, como os palmeirenses Pierre (42) e Diego Souza (39). No início do campeonato, esse maranhense que já defendeu grandes times do futebol nacional, como Palmas, CFZ, São Bento e um tal de “Vitória da Bahia”, jogava como lateral-direito e tinha números bem mais modestos. Só passavam pelo seu setor laterais-esquerdos corajosos e atacantes desavisados, logo o máximo que nosso craque podia fazer era distribuir alguns carrinhos e observar de longe e com sangue nos olhos o meio-campo faceirinho do Avaí levando um baile dos adversários. A nau manezinha naufragava aos poucos e com sua lanterna azul o Leão iluminava o caminho dos outros 19 times da elite nacional.

Ferdinando e sua cara de preocupado com
esses “santos” que vêm da Boa Terra

Inspirado por um de seus mentores, Telê Santana, Silas queria que o Avaí jogasse bonitinho, fosse um time de toque de bola, essa coisarada toda que os Albertos Helenas da vida adoram. Quando viu que a vaca tava indo com corda e tudo decidiu apelar para o bom e velho estilo guerreiro que na década de 1940 rendeu aos craques azuis de Florianópolis o apelido de “os leões da Ilha”. Meteu logo três zagueiros malinos, um atacante trombando com os zagueiros na frente e o principal: Ferdinando guardando as chaves da entrada da área avaiana. Foi o suficiente para vencer as quatro últimas partidas, três delas fora de casa, e galgar 10 posições na tabela de classificação, deixando muito comentarista sem ter o que dizer – afinal, quem era o “virtual rebaixado”?

Num espaço do campo cheio de vítimas em potencial, Ferdinando pôde aproveitar todo seu ímpeto taurino. Com ele na função de dizimar qualquer ameaça que se aproximasse a menos de 40 metros da meta de Eduardo Martini, ganhamos três partidas e só levamos um gol – de cabeça e em cobrança de escanteio, já que Ferdinando é baixinho e estava fora da área esperando o rebote. A quarta vitória veio sem ele, pois um gremista qualquer (não lembro qual) foi apresentado às travas da chuteira de Ferdinando logo após o craque ter estufado as redes de Victor com uma pancada (dessa vez, na bola) de fora da área e um juizinho desses que gosta de aparecer em cima dos grandes jogadores expulsou o camisa 5 avaiano. Mas tudo bem, pra ganhar do Atlético Paranaense até time de anão basta. Assim, Ferdinando pôde descansar um pouco para embates mais calientes.

Se paira alguma dúvida sobre o que digo acerca do verdadeiro craque do Brasileirão, a verdade surgirá na noite de quinta-feira (30/07. Anotem na agenda) na mais bela Ilha do Atlântico, quando vão estar frente a frente os esquadrões de Avaí e Vitória. Ferdinando mandou avisar a quem interessar possa que o único santo que conhece é São Adriano, o padroeiro dos açougueiros. Façam como bilhões de aficionados pelo futebol mundo afora e não percam por nada essa briga de leões – mas não esqueçam de tirar as crianças da sala, por favor. E o leão da Barra que venha quente, pois o da Ilha está fervendo.

Foto: Site do Avaí.

Felipe Silva, o “Catarina”