Antes ladrão do que ruim

É comum se dizer, quando se quer aliviar as críticas a um árbitro: “não é ladrão, é ruim mesmo, erra para os dois lados”. Uma expressão condescendente, que, se mantém a crítica, ao menos preserva a honra do cidadão de preto (ou amarelo, ou rosa shocking, a cor agora varia).

Pois ao meditar sobre recentes acontecimentos, cheguei a uma conclusão surpreendente e contrária ao senso comum. O juiz ruim é pior do que o juiz “ladrão” – o termo aqui é usado “lato sensu”, engloba desde o localista, passando pelo tendencioso até o comprado propriamente dito.

Primeiro motivo: a imprevisibilidade. De alguns árbitros se espera um certo comportamento em favor seja do time da casa, do time grande ou do seu favorito pessoal. A comissão técnica do adversário tem a oportunidade de preparar seus jogadores para eventuais atitudes que lhe causarão dissabores e eles podem até ser motivados a vencer contra essas circunstâncias. Do ruim se pode esperar qualquer coisa, a qualquer momento, especialmente nos mais impróprios.

Segundo motivo: a falta de sutileza. O árbitro mal-intencionado precisa esperar uma ocasião propícia para exercer sua influência. Não pode marcar infrações absurdas sem dar muito na vista, pondo em risco, assim, o esquema do qual porventura participe. O ruim é capaz de marcações esdrúxulas contra toda evidência em contrário e sem nenhum drama de consciência.

Consciência aliás, que faz parte do terceiro argumento: o “ladrão” tem CERTEZA de que está ERRADO. O ruim ACHA que está CERTO. O que nos leva a outro problema: enquanto o “ladrão” é firme no seu erro e pode “voltar atrás” dias depois quando nada mais importa e ainda posar de humilde por tê-lo reconhecido, o ruim vacila ao ver a reação perplexa dos afetados pelo erro e tende a tentar compensá-lo provocando outros erros, numa espiral de confusões que põe os dois times contra ele, cada qual com suas razões.

Por fim, o “ladrão” tem certa coragem. Ele sabe que corre um risco ao tentar influenciar o jogo a favor de alguém e que sua carreira pode ser prejudicada. Já o ruim morre de medo das conseqüências dos seus possíveis erros e isso o leva a se omitir na arbitragem, causando novos problemas que aumentam as chances de ele errar de novo e de perder o controle da partida.

Sei que haverá quem dê ótimos argumentos contrários, e preferiria que esses homens fracos, mas bem-intencionados, tivessem melhor sorte ao apitar, mas numa coisa todos concordamos: pior mesmo é o “ladrão” que também é ruim.

Imprescindível colaboração enviada por Jesus Petry.