A noite em que Luxemburgo acabou com meu sono

Eram pouco menos de 30 minutos do primeiro tempo quando me ABOLETEI na poltrona da sala, liguei a TV, sintonizei no SporTV, vi que a pelada ainda estava 0 a 0 e achei que estava tendo visões, que a fome de quem estava desde as 13h sem comer estava começando a me afetar: quer dizer que o jogo ainda está 0 a 0 e o Profexô Vanderlei Luxemburgo resolve fazer DUAS alterações de uma vez só?

Não vai sujar meu sobretudo de acarajé, baralho!

(Deu para ver que eu não havia perdido nada ao acompanhar Dona Camila em mais uma aventura pelo shopping, em busca de apetrechos para o vindouro Davi e para trocar alguns presentes de aniversário que não me serviram. Aventura que terminou com um reencontro com uma velha amiga, uma carona até perto dos confins de Sorocaba e com a chegada em casa tardia, maldito rádio de carro que tem MP3, Bluetooth, entrada USB e o cu-da-mãe-joana, mas não pega a maldita AM!)

Logo de cara foi possível perceber que o outrora conhecido como melhor técnico das Terras Cabralinas tinha aprontado mais uma das suas, inspirado no 3-6-1 de Sexy Roth, novamente deixando Keirrison esquecido em meio ao FEDOR lá na frente, acompanhado de longe por um transtornado Diego Souza. As entradas de Marquinhos, o sobrinho do Franciel, e de Obina, aquele melhor que o camaronês lá, para as saídas do inominável Fabinho Capixaba e do garoto Ferrugem, além de não resolverem grande coisa, me deixaram numa dúvida atroz: Luxerlei queria ser reconhecido como “gênio tático que enxerga o jogo em apenas 30 minutos” ou como “responsável por ter colocado uma escalação cagada em campo”? Ainda assim, o time teve um pequeno lampejo, numa tabela entre Obina, Cleiton Xavier, Diego Souza e Keirrison, que chutou e a bola lambeu a trave.

(No intervalo, Dona Camila foi se deitar e me perguntou: “Você não vem deitar?” Sem nenhuma segunda intenção: grávida de sete meses e meio, ela foi proibida dia desses pela médica de fazer qualquer coisa que não seja dormir sobre uma cama. Ah, os sacrifícios que fazemos pelos nossos filhos…)

No segundo tempo, parecia que ia continuar a lesma lerda e que carregaríamos o sofrimento jogo adiante, até que, no segundo e último lance de SOBRIEDADE alviverde em toda a noite, Keirrison recebeu a bola, esperou e deixou para Diego Souza fuzilar. Palmeiras 1 a 0, Palestra Itália (Parque Antarctica acabou lá por 1940, faz favor) em chamas, torcida aplaudindo até as matadas de canela e os escorregões do Melhor-que-o-Eto’oooooooooooooooooooooooo. E o técnico do Nacional incrivelmente pedindo para o time segurar as pontas que o 1 a 0 estava de bom tamanho.

De bom tamanho para os dois, digamos de forma clara, já que o Palmeiras fazia uma péssima partida. Marquinhos estava abandonado na ponta-direita, mais esquecido que terço em gaveta de calcinhas de evangélica recém-convertida. Cleiton Xavier marcava o vento no grande círculo, e o esforçado Pierre era o único que aparecia para uma tabela, enquanto, do lado esquerdo, Armero errava mais do que repetente em prova de matemática e Diego Souza ora se escondia da bola na bandeirinha de escanteio, ora jogava uma queda de truco com os reservas do Nacional, ora resolvia aparecer completamente ALUCINADO estragando contra-ataques tentando driblar 30 uruguaios ao mesmo tempo. No meio, Keirrison brigava contra a própria grossura recém-adquirida enquanto fugia da marcação de Obina, que procurava a bola como quem procura um prato de comida.

(No sofá, eu pensava: “Cazzo, as horas de sono que eu estou perdendo por causa dessa merda, tenho que acordar às 4h30 amanhã”. Mas, coisas que só o futebol faz por você, me mantive impávido colosso defronte à TV, ignorando novos chamados de minha consorte.)

Então, no momento-chave, em que até achava ser possível achar um segundo gol num CU-DE-BOI qualquer lá na frente, Luxburger convoca JUMAR. E tira Keirrison. Eu até imaginava que ele ia impedir um nocaute de nosso ataque KO no segundo tempo, mas para colocar o Ortigoza, formando a dupla OO. Mas não, ele bota o Jumar, conhecido por jamais ter acertado um maldito passe com distância maior do que 1,55 metro. Tal e qual um Tite com terno, o professor resolve recuar o time para garantir o resultado. E, castigo dos deuses, o Palmeiras com três zagueiros e dois volantes leva um gol idiota numa bola alçada na área nas costas da defesa.

“Só duas pitadas de pimenta-brava, por favor”

(E aqui faz-se necessário um quarto parêntese: Marcão. Quando ele trocou o Inter pelo Palmeiras, os colorados aqui da ImpedCorp fizeram chacota. Achei que não era para tanto, mas nos últimos jogos notei que ele aparece em absolutamente todos os gols marcados contra o time, sempre a cerca de 2 metros do cara que faz o gol. Aconteceu com o Ronaldo, o Wilson do Sport, o Danny Morais e neste jogo. Sempre atrasado. Merecia demissão sumária, com justa causa, sem direito a férias e com pena de prisão perpétua assistindo a entrevistas diárias de Tite, Autuori e Parreira.)

O gol acabou com o jogo, com a moral da torcida, com o meu sono e a minha paciência. Fui dormir sem conseguir entender o que ele queria jogando no 3-6-1 em casa, no jogo de ida de um mata-mata de quartas de final de Libertadores – a postura de enfrentamento à torcida, com críticas, queixas e citações a Sport e Internacional, me deixam a impressão de que o que ele quer mesmo é acelerar seu pedido de demissão a fim de receber a tal multa rescisória. Seria um prejuízo aceitável, a meu ver. Fosse eu cartola, já estaria estudando a hipótese.

Como sou apenas torcedor, todavia, resta-me apenas, dããã, torcer. Ainda acho que é possível bater o Nacional lá no Centenário, seja de que jeito for, como conseguimos bater o Colo Colo em Santiago e o Sport na Ilha. Apego-me nessa esperança e na surrada frase de algum famoso guru de autoajuda (adios, hífen querido): “Vencer sem esforço é triunfar sem glória”. Que assim seja, pelos séculos dos séculos, Amém! Mas eu ainda acho que, no fundo, eu devia mesmo era ter ido dormir.

Fernando Cesarotti