O melhor adversário até agora

São muitos, cada vez maiores, os ecos da Venezuela que ribombam aqui em Porto Alegre trombeteando aquilo que muitos não sabiam: abram o olho, o Caracas é vesgo mas não é bobo.

É claro que isso não significa que é um timaço. Não, longe disso. Se ganhar a Libertadores – corre risco, uma vez que disputa – será um novo Once Caldas-2004, ganhando partidas com rigor defensivo e pega-ratão muito eficiente. Não está perto de uma Liga de Quito, não tem um Guerrón ensandecido pela ponta-direita; entretanto, é uma equipe que está construindo uma tradição bastante significativa para um país que prefere o beisebol e o bungee-jump em tonéis de petróleo.

Nas últimas três Libertadores, o Caracas complicou a vida de dois times tradicionais: o River Plate – eliminado em 2007 na primeira fase depois de perder dois jogos para os venezuelanos, um deles em casa – e o Santos, que chegou a perder de 2-0 para os vermelhos.  Os times não são os mesmos, claro. Há diferenças cabais: o goleiro Toyo, por exemplo, conhecido como “Muralha” e que foi bem nos dois jogos, voltou do Bucaramanga recentemente e viu sua meta ocupada pelo eficiente Vega.

Entretanto, o Caracas teve um acréscimo de qualidade este ano com as entradas do atacante Rentería e do meia-atacante Darío Figueroa, goleador da equipe com 5 gols. São os dois homens que melhor sabem tratar a bola na equipe, como demonstrou a grande atuação do time vermelho contra o Cuenca.

Aliás, apesar da excelente posição na Copa Libertadores, é necessário dizer que as performances do Caracas foram irregulares até agora. O Caracas demonstrou futebol precário em algumas partidas, como contra o Cuenca no primeiro jogo e o Everton. Contra o Cuenca, entretanto, o time soube aproveitar muito bem os espaços e fez um grande jogo. O treinador Noel Sanvicente, que lidera a casamata caraquenha, está na equipe desde 2002 – em sete anos, dá para dizer que ele sabe bem das fraquezas e forças do seu time.

Será necessário também manter um olho aberto em relação às faltas próximas da área. O Caracas tem um bom batedor, o zagueiro Rey, autor de gols como esses:

O Grêmio é sem dúvida um time mais qualificado tecnicamente. O Caracas deixa muitos espaços entre a defesa e o meio campo, um pouco pela falta de qualidade técnica dos jogadores de meio campo, que erram muitos passes. A defesa é bastante experiente (também tem Cichero, da seleção, e Deivis Barone, ex-Nacional, Colón, Atlético Junior e Libertad) mas um tanto desatenta, o que pode ser perigoso diante de atacantes espertos. Rentería é um jogador fisicamente muito forte, o que pode complicar a vida de um zagueiro; por outro lado, o bom Darío Figueroa é um jogador de bola no pé. Marcado de perto, é pouco mais que mediano.

Sem dúvida, o Grêmio pegará amanhã o que há de melhor no futebol venezuelano. O Caracas é campeão do Clausura e decide o título integral contra o Deportivo Italia no próximo fim de semana. O tricolor precisará de concentração e atenção para evitar que o seu declarado favoritismo afete o desempenho dentro de campo. O confronto é menos equilibrado do que foi Boca Juniors contra Defensor Sporting, pois o Boca estava mal como time e o Defensor é uma equipe bastante experiente. Porém, cabe ao Grêmio não deixar esse exemplo se repetir.

Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos