Corra e olha o céu
28/04/2009 at 14:45 Daniel Cassol 34 comentários
Verificou-se neste domingo a decisão do título do interior gaúcho, única competição relevante de 2009. Confesso que não entendi muito bem os critérios da disputa. Ypiranga fez o melhor somatório de pontos, afora a dupla grenal. Caxias chegou à final de um dos turnos. E era isso. Zequinha jogaria a final do interior? E se o Caxias fosse campeão do returno? Não importa, e ninguém se importa de verdade.
Sequer o Senhor Multisom, dono da FGF, ou vice-versa, estava presente ao local desta singela disputa – talvez porque a taça não tivesse nome de cartolas da dupla grenal, grande fonte de renda da federação. Mandou o vice.
No início do ano, quando divulgada a restauração do “título do interior” foram alardeadas, com grande pompa, uma vaga na próxima Copa do Brasil e na série D do Brasileiro, além do prêmio de 50 mil reais. Sensacional, não?. O que mais um clube do interior pode querer? Um flash nacional e o valor equivalente ao salário mensal do mais medíocre reserva da casamata do Olímpico ou Beira-Rio, mas que sustentará todo o clube por um ou dois meses.
Já quando os embates entre Ypiranga e Caxias estavam definidos, as promessas foram regredindo. Além do dinheiro, era uma vaga na Copa do Brasil. Durante a transmissão da TVCOM, a vaga na Copa do Brasil estava condicionada à ida de Grêmio ou Inter à próxima Libertadores. Na manhã de segunda-feira, em ZH, Copa do Brasil para o Ypiranga só caso a dupla jogue o torneio continental – já que uma vaga está garantida ao nobre Cerâmica de Gravataí.
Na verdade, tudo está explicado no regulamento disponível no site da FGF. Mas para entendê-lo, é preciso um ábaco, um par de luvas cirúrgicas e um Excel rodando em Windows 3.11. Nada surpreendente, já que a mesma Federação negou-se a me enviar cópia do regulamento do campeonato de 2002, prova cabal da legitimidade do título do Guarani da muy valerosa Venâncio Aires.
Nada disso interessa, realmente. No domingo, um gol tosco de centroavante, aos trinta do primeiro tempo, após um chute espirrado do lateral direito, foi o suficiente para garantir o título para os locais pelo saldo qualificado – após os 3 X 2 contra no Centenário – regra que Jader Rocha só conseguiu assimilar e aceitar aos 30 do segundo tempo.
Este é o segundo, dizem. Em 1994, o Ypiranga também ficou com o tal título do interior, após o famoso “Interminável”, o Gauchão de pontos corridos, turno e returno. No entanto, Juventude ficou em segundo lugar, o que torna a denominação de “campeão do interior” meio estranha. Na prática, é o título mais relevante da história do Ypiranga, conquistado em uma final.
No domingo, este coração de pedra novamente se viu emocionado pelo futebol. No final das contas, não interessava se valia vaga a lugar algum, ou alguma quantia ridícula para as receitas da Federação Gaúcha “vamoslucrar200milcomogrenalnointerior” de Futebol. Após o apito final, as luzes do estádio foram apagadas – aparentemente de forma intencional -, e fogos de artifício iluminaram o Colosso da Lagoa.
Aquela final era do interior. Era de outra turma, de outro futebol. É a final do lado “1”, dos desiguais 8 a 1. Do futebol baseado na dedicação teimosa de algumas comunidades, algumas pessoas, alguns sócios que pagam dízimo ao clube durante décadas, que cederam terreno para a construção de um pavilhão social, para a construção de um lance de arquibancadas para abrigar os programas de domingo. De jogadores que encontramos almoçando no buffet do centro da cidade, no dia de concentração para o jogo. Onde o marketing se restringe à placa na calçada do centro da cidade, anunciando data e hora do próximo jogo. De uma realidade abandonada pelos clubes dos homenageados Fernando Carvalho e Fábio Koff, há muitas décadas. De um cenário que faz os mais radicais, ou irônicos, espalharem faixas do movimento “Anti-grenal” pelos alambrados do interior – ou até na Zona Norte da capital.
Não sejamos ingênuos a ponto de imaginar que os clubes do interior não gostariam de ter a receita milionária, a visibilidade e a estrutura dos grandes da capital. Por diversos motivos, isso não é possível. Mas as tentativas continuam, via “parcerias” – geralmente fracassadas – o tão propalado “planejamento”, e a por vezes elogiada “gestão”.
Sempre defendi os estaduais como base fundamental do futebol brasileiro, mas começo a repensar a necessidade de misturar clubes de estaturas tão diferentes na mesma disputa. Longa vida à Segundona Gaúcha, sempre digo.
Os clubes do interior nunca serão um Grêmio ou um Inter.
Infelizmente – para os que se frustram na busca de tal objetivo absurdo.
Felizmente – para nós que gostamos das coisas simples da vida e do futebol.
Antenor Savoldi Jr.
Foto: Correio do Povo
Entry filed under: Gauchão, Pelo Interior.
1. Prestes | 28/04/2009 às 14:51
Bravo.
2. arbo | 28/04/2009 às 15:07
felizmente!
(essa foto tá muito estranha. os dois q seguram a taça parecem dois bonecos akjgklajs)
3. Rudi | 28/04/2009 às 15:08
PENSO que os estaduais poderiam ser extintos COM UMA CONDIÇÃO
quinta e sexta divisões com primeiras fases regionalizadas… e as últimas fases com subsídio para o clube viajar, já que temos um país-continente, e essas divisões contando com muitos, mas muitos times mesmo, a sexta sendo aberta para qualquer equipe que quisesse e se julgasse pronta
uma copa assim também, aberta para qualquer equipe profissional ou semi-profissional se inscrever, e inúmeras fases eliminatórias
MAS acho que não daria certo no Brasil, pelo simples fato de que idéias simples não vingam por aqui
4. Camilo | 28/04/2009 às 15:09
Parabéns.
5. arbo | 28/04/2009 às 15:25
Rudi, certo q o impedimento entraria nessa sexta aí, com seu valente escrete
6. Tim Maia da Coréia | 28/04/2009 às 15:28
Boa!
Interior forte!
7. Diogo | 28/04/2009 às 15:50
Poucas vezes vi algo mais constrangedor que a comemoração do pessoal de Erechim – parecia Copa do Mundo. E olha que eu me considero quase um erechinense.
Valha-me Deus: o Caxias deveria era ter perdido por W.O. após tomar oito do inter.
Bem, poderia ser pior. Poderia ser o pessoal do Caxias comemorando.
Constatando que uma meia dúzia de torcedores foi ao COLOSTRO das Lagoa ver o time, parece que ainda não perderam a vergonha na cara.
8. Lourenço | 28/04/2009 às 15:58
#7 Não entendi o problema da comemoração. Como está no texto, é talvez o maior título da história do clube. Não esperava que o Ypiranga seguisse o lema “Libertadores é a nossa cara”.
Competição de colégio se comemora quando se está no colégio,
Amador comemora campeonato de várzea, e por aí vai.
Parabéns ao Ypiranga, acho que foi o melhor time do interior no Gauchão mesmo, embora o Caxias tenha feito bons jogos na Taça Fábio Koff.
9. Lourenço | 28/04/2009 às 16:04
Sobre o texto e os estaduais, não sei se o problema é esse mesmo. As fórmulas têm que observar três desafios, a meu ver: não prejudicar (diferente de privilegiar) os times grandes, que disputam outras competições mais importantes no primeiro semestre; fazer um número de jogos suficiente para mexer os clubes do interior (no mínimo uns 15 jogos para cada um por, no mínimo, 3 meses); o terceiro é juntar as peculiaridades dos grandes e pequenos sem fazer uma fórmula absurda (“daí a dupla grenal entra na oitava fase”), aquelas que deixam claro a diferença de tratamento.
Porque folha salarial muito maior de uns contra outros tem na Libertadores, na Copa do Mundo…
10. Almir | 28/04/2009 às 16:04
Comovente o choro do torcedorzinho grená aos 1:32.
11. Santi | 28/04/2009 às 16:43
Brasil = único pentacampeão do planeta
Brasil = único país do mundo com estaduais
Vejo uma relação nessas verdades. O RS tem o tamanho de três Portugais. Se Portugal tem comunidades interessadas em abrigar futebol e times suficientes para segurar um campeonato, o RS também tem que ter. Claro que a grana não é a mesma, mas, como o Antenor disse, isso não faz diferença.
O que importa é que as comunidades torçam para seus times, seus ídolos e chorem as suas vitórias e derrotas.
Grande texto, Savoldi.
Do xará de sigla,
AS
12. Antenor | 28/04/2009 às 16:50
Valeu Santi, valeu aos demais
Concordo plenamente – estaduais forever.
O que lamento profundamente é a postura da própria Federação que organiza o campeonato, fazendo de tudo pela dupla grenal – para “abrilhantar” o campeonato -, e muito pouco pelos times do interior.
13. Arruda | 28/04/2009 às 16:54
Victor VEC (em foto), ontem. Antenor, hoje.
É bom ver o Impedimento buliçoso [ns].
14. Frank | 28/04/2009 às 17:04
Ótimo texto, gostei muito do tratamento dado ao tema.
A situação dos estaduais é realmente paradoxal. Eu também defendo que eles continuem, mas como ficam os grandes clubes do país?
Aqui, o Grêmio não privilegiou o estadual, a não ser nos Grenais (o mesmo ocorreu com outros clubes envolvidos com a Libertadores, talvez excetuando o Palmeiras). O Inter passeou de tal forma (inclusive contra o Grêmio) que acredito que o torcedor ache que o Gaúcho não é parâmetro pra nada, ou é apenas mais uma taça a ser jogada na sala de troféus, quase desvalorizada diante das conquistas que podem vir no ano…
Um campeonato sem a dupla Grenal seria certamente mais interessante, mas diminuiria muito o interesse do público e a arrecadação, inclusive para os pequenos…
Nessa sinuca de bico, pelo menos espero que os estaduais continuem, pois nada pior do que aquelas competições regionais fomentando uma pretensa “rivalidade” totalmente sem sentido, tipo a Sul-Minas…
15. Francisco Luz | 28/04/2009 às 17:10
Não sei, Frank. Eu costumava ir em jogos do Novo Hamburgo na segundona gaúcha, e só fui duas vezes quando jogou contra o Inter – em umas cinco que já houve.
Acho que a chance de as cidades se unirem em torno dos seus times é maior sem a dupla gre-nal do que o contrário.
16. Charkes | 28/04/2009 às 17:13
Ufa! Até que enfim, Antenor volta à cena de maneira Marota. Sem estardalhaço. Como deve ser.
17. Diogo | 28/04/2009 às 17:19
O Gauchão sem a dupla Grenal seria desastroso para os times “semi-profisionais” do interior em termos de arrecadação.
O jogos mais aguardados são aqueles contra a dupla Grenal, assim como a conquista maior do Ypiranga reside no fato de ter a chance de jogar a Copa do Brasil ano que vem, contra um time grande.
É isso que o torcedor do interior quer ver.
Aliás, para unir torcedores em torno de seus times e as respectivas cidades, sou muito mais o FUTSAL.
18. Tim Maia da Coréia | 28/04/2009 às 17:19
Tche… entre todas as alternativas ainda acho que o melhor é DEIXAR COMO ESTÁ.
Sério mesmo… as vezes vai ficar barbada, as vezes vai ser um puta torneio (97, 06).
Numa dessas um do interior ganha… um caneco CAMALEÃO sem dúvida…
O que não pode é alimentar a torcida do interior pela dupla, como nesse Gre-Nal ridículo em Erechim…
Mas percebe-se que tem muita gurizada nova fazendo torcida para os times locais e apoiando… evoluí devagar, mas acho que evoluí…
19. martina | 28/04/2009 às 17:32
#15
faz sentido. eu fui ver o lajeadense x milan, lajeadense lanterna do grupo, o jogo no mesmo horário do grenal. e o florestal quase lotado.
20. fino | 28/04/2009 às 17:32
Nada disso importa hoje… já estou me entragolando por telepatia aqui e morro de tristeza ao constatar que terei tempo de sorver somente DOIS LATÃO antes de entrar no Olimpico..
A proposito, quem vai no jogo?
21. Jabba | 28/04/2009 às 17:40
#20
Estarei lá nas sociais, do lado da geral, cigarro em punho (e sem ceva, felasdaputa).
22. Prestes | 28/04/2009 às 17:44
Como bem sabes não vou, fino, por motivos óbvios (INTER >>> Grêmio; PRESTES, Pai do; 1988).
Mas prometo secar DE CANTO DE OLHO no segundo tempo, após voltar da aula.
23. fino | 28/04/2009 às 17:46
Hoje vou lá na DISSIDÊNCIA pra ver qualé…
24. Wilson | 28/04/2009 às 17:47
Acabar não é preciso, mas os times grandes não devem jogar os regionais…
Cada um na sua turma e era isso. De uma maneira tosca e rápida, o Gauchão seria o Brasileirão dos times do interior, com direito a vaga na última divisão nacional (D). Quem joga A, B, C ou D do nacional não disputa estadual. Rebaixados da série D voltam pro regional.
Não teríamos a festa de arrecadação da dupla indo jogar em Erechim, Santa Cruz ou Santa Maria. OK, mas teríamos os times do interior DISPUTANDO algo que vale a pena (vaga no nacional) e com chances REAIS de ganhar. E isso aumentaria muito o interesse das comunidades nos seus clubes, muito mais do que essa demência de hoje – esperam um ano inteiro pra jogar com a dupla e, quando chega o momento, os ingressos vão pra estratosfera.
Óbvio que uma sugestão dessas não passaria nem pela porta das federações regionais. Mas garanto que seria muito mais divertido pros times do interior. O que não pode é deixar como está, onde cada ano as regras mudam e os times pequenos vivem das migalhas dos grandes.
25. Tim Maia da Coréia | 28/04/2009 às 18:02
Esse lance aí que o Wilson fala é bacana.
Campeonato o ano inteiro…
26. Tiago | 28/04/2009 às 19:23
Não vai sair nenhum post sobre a incrível recuperação do Lajeadense na série B?
27. Luzardo | 28/04/2009 às 19:24
Tem acontecido quase sempre dos times que vem da Segundona serem os mais fortes do interior. Sinal de que o gauchão tá todo errado. Nenhum clube forma base e se fortalece jogando só o gauchão. Enquanto não tiver um gauchão decente teremos poucas chances de emplacar clubes na D e C do brasileiro. Tinham que juntar os clubes da primeira com os da segunda e botá-los a jogar o ano todo valendo título. Depois que façam um torneio de verão com a dupla só no mata-mata como pré-temporada e deu.
28. FERN | 28/04/2009 às 20:49
simples é estadual de temporada inteira e um torneio interligas nos meios de semana!!!
ou mesmo sem este torneio…
29. mota | 29/04/2009 às 00:47
Não ha rivalidade que resista a um campeonato estadual deficitario e previsivel.O único estadual com um bom nivel é o paulista e não tinha como ser diferente considerando o potencial economico do estado.Pra mim os estaduais tinham que acabar mas com a condição de incluir os times pequenos nas divisões inferiores do campeonato brasileiro, criando 5°,6°,7°divisão,regionalizando essas competições e fazendo com que esses times tivessem pelo menos 6 meses de atividade.
30. mota | 29/04/2009 às 00:52
Outra saida seria a volta das ligas regionais(nordeste,sul-minas,centro-oeste,norte).O paulista e o carioca poderiam continuar mas duvido que um rio-sao paulo de 14 ou 16 times(como o de 2002) não fosse melhor.Os estaduais serviriam de acesso a esses campeonatos.
31. mota | 29/04/2009 às 01:06
Acho que um campeonato de 38 rodadas inviabiliza estaduais que tem em media 20 rodadas.Os grandes acabam tendo 2 temporadas em 1.Os estaduais só servem pra não deixar q os grandes clubes fiquem muito tempo sem ganhar nada,lhes dando uma falsa imagem de grandeza.
32. mota | 29/04/2009 às 01:14
Em um campenato de 20 clubes é impossível ter 12 clubes considerados grandes(fora times como bahia,vitoria,coritiba sport,atletico-pr,etc…).Aqui no brasil os 4 de sp,os 4 do rio,os 2 do rg sul e os dois de mg sempre foram os chamados “grandes”,e isso é bastante discutivel.A tendencia de um campeonato de pontos corridos é criar uma elite menor e talvez muitos times grandes percam essa imagem,que foi construída na maioria dos casos com base nas conquistas estaduais.Exemplos disso são o atletico-mg e o botafogo
33. Sanchotene | 29/04/2009 às 12:25
O regulamento pode ter critérios estranhos, mas é bem claro quanto aos critérios para estabelecer os finalistas do “interior”: Seriam os vices das taças, excluindo-se a dupla Gre-Nal. Caso não houvesse dois clubes habilitados, valeria a campanha no total geral, sem as finais.
Assim, foi o vice da TFK (Caxias) x o time de melhor campanha (Ypiranga).
34. Antenor | 29/04/2009 às 15:32
#30 Sul-minas é aberração.
#33 Eu achei complicado o regulamento, embora tenha admitido que tudo está explicado ali.