Argélico, o libertador

Sem perder uma dividida jamais.

“Eu libero uma cerveja depois do jogo”, disse o treinador Argélico Fucks, o Argel, na já histórica entrevista concedida ao programa Cadeira Cativa, da Rádio Guaíba, na noite desta segunda-feira.

Na verdade, Argel fazia parte da mesa redonda, mas suas declarações ofuscaram a participação dos demais convidados. O treinador pediu demissão do Caxias após vencer a primeira partida da decisão do Interior – vencida pelo Ypiranga no saldo qualificado. Disse que sair no meio da final foi uma decisão pessoal.

Mas não foi por causa de suas explicações que a entrevista entrou, de imediato, para os anais da imprensa esportiva gauchesca e brasileira.

Sem rodeios, Argel criticou muitas práticas que estão se tornando verdadeiras chagas do futebol moderno, como o treino fechado, a concentração e o DVD. E galgou definitivamente o seu lugar no panteão dos heróis do futebol, depois de ter formado com Jonílson a melhor dupla de zaga da história do Internacional.

Disse que treino fechado e concentração não ganham jogo. Que se deu mal nas poucas vezes em que experimentou as duas práticas, repetindo a máxima de que “se concentração ganhasse jogo, o time do presídio seria campeão”. Também revelou que não passou DVD da equipe do Grêmio antes do fatídico 4 a 0 pelo Gauchão.

O melhor da noite, porém, foi quando Argel revelou, sem citar nomes, que muitos dos jogadores do Caxias fumavam. “O importante é ser profissional”, disse o Argel, considerando profissional aquele jogador que, mesmo fumante, consegue correr em campo. Por fim, afirmou que libera uma cervejinha para os jogadores depois das partidas. E ainda criticou o bom-mocismo de alguns atletas: “Não quero jogador de futebol para ser meu genro”, disse, recuperando outra máxima do futebol verdade.

Lamentavelmente, Argel recuou um pouco nas suas declarações, certamente percebendo que a audiência não estava preparada para suas idéias de vanguarda. “Cada treinador tem uma maneira de pensar”, ponderou.

A questã (BRIZOLA, Leonel) é que até o momento Argel não tem feito maus trabalhos pelos clubes onde passou. No próprio Caxias, pegou “uma bomba” e deixou um “diamantezinho”, como afirmou na Guaíba. Se o curto prazo lhe reservar um título como treinador, o futebol brasileiro estará diante de um verdadeiro revolucionário da casamata, aquele que irá libertar o torcedor da opressão do politicamente correto.

E ainda por cima é “bom e barato”, como fez questão de frisar.

Um abraço,
Daniel Cassol
Foto: Montagem da ImpedArt sobre foto Futebol Interior.