Um por todos, todos por um (a um)

Convém perceber a importância que o número 1 – a regra é clara e MANDA que escrevamos certos números por EXTENSO; não o farei por razões estéticas, ao menos por enquanto – retomemos nosso tema, a importância do número 1 no imaginário humano.

O 1 é O número, ainda que muitos possam achar que O número é, na verdade, o 0, já que é mais redondinho, mais fofuxo e miguxo, enfim, mais HOLÍSTICO. Pode até ser, mas não é disso que eu vou falar.

A suma importância do 1, essa afirmação aparentemente arbitrária, fundamenta-se basicamente nas experiências e fatos que o MUNDO nos oferece. A nota de R$ 1 – ainda existe? – é a mais verde do dinheiro brasileiro; a moeda de 1 pila é a mais bonita, bacana e CLASSUDA de todos os níqueis do Brasil-zil; a própria expressão “1 PILA” – mais por PILA que por 1, é verdade, mas isso também não é relevante – tem uma força conceitual muito grande, tanto que suas derivações e variantes – “sem 1 pila”, “nem 1 pila”, “sem 1 puto” – são tão marcantes quanto ela, especialmente em casos onde tu é ACHACADO por um qualquer e precisa MENTIR.

Notem que fiz um parágrafo enorme, mas sequer falei da diferença entre ser o primeiro, o último e o único, alguns exemplos da utilização relativizada do, digamos, “1 puro” que renderiam, todas elas e outras que possamos inventar, filosofadas barísticas (“em bares” – neologismos afu!) até o final dos tempos.

Todas essas demonstrações de valentia e poder por parte do algarismo 1 são só pra justificar a minha singela opinião de que o 1-1 é o placar mais frustrante do futebol. Não há, repito (em CAIXA ALTA, negrito, itálico, sublinhado e, se possível, em COMIC SANS), NÃO HÁ escore mais chocho que o empate em um gol, é pior ainda quando o teu time SOFRE esse gol, e ainda mais pior que tudo na vida ó que tragédia quando tua equipe é a MANDANTE.

Bastante complicada essa coisa de PALAVREAR o sentimento que invade [ui] o vivente numa situação dessas. É um acabrunhamento, uma coisa assim sei lá, entende (cf. PATROPI, 198?)? Sabe como é? Não dá pra dizer que é ruim – porque um resultado desses às vezes classifica o time, tampouco se pode dizer que é triste. Mas não desce, a pessoa humana e torcedora fica com aquele, [entra clichê] GOSTO AMARGO na boca. Como eu disse em alguma parte ali por cima, FRUSTRANTE é a melhor definição.

Não me venham, por favor, com aqueles papos saraivísticos (a/c mídia feia, má e bobona) de empate “com sabor de vitória” ou “de derrota”. Um jogo em que teu time perde é um jogo triste, VIA DE REGRA. E um jogo que ganha, que felicidade! Não compliquemos as coisas simples que o futebol ainda mantém. Assim sendo, da minha parte, não existe DERROTA BOA, tampouco VITÓRIA RUIM. O empate, no entanto, é um caso a parte, e o um a um (rá!) é o pior deles por ene motivos.

Quando o DRAW é 0-0, a emoção se transfere dos golos para os lances. Pode ser uma bola na trave, uma entrada mais dura, aquela chuteira amiga na cara ou a sempre copera y peleadora voadora pelas costas. Toda a energia que o jogador usaria pra meter a pelota na rede e sair correndo enlouquecido rumo à sua torcida (ou à torcida adversária) precisa ser RECICLADA (eco-termo politicamente correto) na ausência dos golos. Qualquer motivo é motivo.

Noutro extremo, um empate com muitas cidadelas balançadas traz o GOZO total e irrestrito que só um caminhão de golos pode proporcionar. Ainda que haja outros momentos igualmente importantes, chuteira na cara, etc, etc, ainda é, o GOL, o GRANDE MOMENTO DO FUTEBOL (sintam a inversão da frase para efeitos de JABÁ).

A grande hora de soltar aquele sonoro TOMA, FILHO DA P#$@, de abraçar aquela gostosa desconhecida, de sorrir pro tiozinho desdentado e fedorento e de poder chutar aquele gordinho maconheiro da tua frente (referência a texto passado? Dá-me!) é na hora do FEITÔÔÔÔ, do ADIVIIIIINHEEEEE. Não tem jeito. Com muitos golos, a emoção aflora totalmente e ficamos em êxtase por um tempo imensurável.

Percebam que, em todos os outros resultados, a emoção existe em sua forma pura e verdadeira, exceto no um a um. O 1-1 é o quase, é o tranca-foda. Um placebo emocional, migalha do sentimento proporcionado pelo jogo. É aquela coisa de foi por pouco, dava pra ter sido mais. No 1-1, cada golo não é mais que uma artimanha do destino para castigar o torcedor por tudo aquilo que ele disse que faria e não fez. É isso, o um a um é uma PROMESSA NÃO CUMPRIDA. É a punição do DEUS FUTEBOL que nós, pecadores do mundo, pagamos na bola. Porque não há outra explicação pro teu time pressionar, massacrar e, num contra-ataque MAROTO, tomar um golo. Não há razão suficiente que esclareça os motivos do árbitro, com a arrogância que lhe é peculiar, em acabar o jogo no EXATO MOMENTO em que todos têm a CERTEZA de que a virada sairia. Não há, não existe, não compreendo.

Esse tipo de empate, vocês já sabem qual, não tem a emoção chateada (ou chateação emocionada) do zero a zero, muito menos o êxtase JUVENIL de um dois a dois ou quatro a quatro. É aquele caminho correto, sem solavancos, aquela situação sem graça com uma guria qualquer pelos bares da vida, metáfora que um dos IMPEDGUYS saberia descrever com mais BACANICE. Até uma derrota vexatória é mais definidora de caráter que um empate em um golo. Até um cinco a cinco, mesmo cedido pela equipe que ganhava de cinco a dois, é melhor pro futebol que essa mixaria do 1-1. Vocês me entendem, não é????

Texto enviado pelo ensandecido leitor Zeh Nascimento, em arquivo que ele mesmo denominou como Imped.doc.