Com sete paus se faz uma figueira

Sete é o número perfeito de Deus. É a soma da trinca divina com os quatro elementos da natureza. Sete são os sacramentos, os pecados capitais e os dias da semana, pois em sete dias o Criador inventou tudo isso aqui. Sete é o número da camisa de Perea. Mas sete, hoje, é mais do que nunca o número de Roth, que na sua linguagem nos pergunta sobre a tendência, possibilidade ou probabilidade: o Grêmio vai sair campeão?

A toca catarinense ficou nas malharias de Imbituba. Inapelável, o Grêmio esmerilhou o Figueirense na residência adversária, até então imaculada neste Brasileirão. Sete a um, uma das maiores goleadas da história do campeonato destepaís, com gols em atacado de Perea e Reinaldo, numa atuação convincente em que Celso Roth sai como grande vencedor. Gremistas foram vistos se beliscando na arquibancada do Orlando Scarpelli. O inacreditável fez-se real: o Tricolor é líder sem nenhuma possibilidade de contestação.

A maioridade gremista chegou aos 28 – pontos. Até a noite desta quinta, o Grêmio se portava como um jovem tímido e desajeitado, que por um acaso do destino conseguiu se entreverar com a mais bela da festa. Mirava os seus pares, bem mais desenvoltos que ele, como a que pedir desculpas pelo crime que estava cometendo. Nem ele acreditava. Mas a rotunda goleada não deixa margem para dúvidas. O Grêmio está seguro e se sente o rei do baile.

É preciso dizer algo sobre o jogo? O primeiro gol, em que Paulo Sérgio rouba a bola na intermediária, parte em velocidade pela direita, cruza no segundo pau para William Magrão escorar de cabeça e Perea completar para o gol talvez seja a síntese de um Grêmio que soube apertar o Figueirense no seu campo, sair rápido para o ataque e finalmente marcar os gols que vinham acontecendo em conta-gotas. O Figueira teve um esboço de reação quase no final da primeira etapa, quando a partida estava ainda em 2 a 0, mas o Grêmio que voltou para o segundo tempo parecia ter tomado uma cartela inteira de aspirina. Na metade da etapa final, já com a coruja devidamente pelada, iniciamos nosso joguinho de futsal na Poor’s Bread Arena, em Porto Alegre, e da quadra foi possível ouvir ainda uns três ou quatro gritos de gol vindos diretamente da copa.

Que os gremistas me perdoem, mas a referência ao Internacional é inevitável – e não é por causa da goleada semelhante à da final do Gauchão, um dia depois da boa atuação colorada frente ao São Paulo. A questão é que o Celso Roth que está treinando o Grêmio está se parecendo com aquele que treinou o Inter na campanha de 1997, quando o time colorado costumava aplicar o rapa nos adversários.

Naquele ano, o Inter foi longe com Roth. O treinador, que teve tempo e tranqüilidade para trabalhar no Estádio Olímpico, dá pintas que irá longe outra vez. É possível ponderar (ou agarrar-se à ilusão, no meu caso, de colorado), que a ausência de um elenco mais qualificado poderá prejudicar o esquema gremista ali adiante. Mas Orteman e Souza já estão na beira do gramado.

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No Palestra Itália, o Santos anunciou ao mundo que faz questão de ser rebaixado para a segunda divisão. Ouvi Kléber Pereira reclamando da arbitragem, mas os dois gols de falta sofridos pelo time litorâneo não se pode tomar. Nem me arrisco dizer se Cuca pediu demissão ou não, posto que o treinador é um tanto quanto volátil. Em Recife, Luciano Henrique garantiu a vitória do Sport sobre o Atlético-PR. Enquanto os pernambucanos respiram, os paranaenses começam a se sufocar.

O Brasileirão ficou bonito e me arrisco a dizer que o título fica entre São Paulo, Palmeiras, Grêmio ou Inter, apesar de o nosso amigo Franciel dizer que o Vitória é que será campeão.

A tabela ficou assim:

Grêmio  28
Flamengo  27
Vitória  26
Palmeiras 24
Cruzeiro  24
São Paulo  23
Internacional  22
Coritiba  20
Figueirense 19
Botafogo 18
Náutico  18
Sport  18
Goiás  17
Vasco  16
Atlético-PR 16
Portuguesa 16
Atlético-MG 15
Fluminense 13
Santos  11
Ipatinga 10

Um abraço,
Daniel Cassol
Foto: Cristiano Andujar/Futura Press/Terra