A vitória moral dos ponteiros

Quem falou que os pontas morreram? Na Europa, com o perdão da citação herética, Cristiano Ronaldo é o melhor jogador. Na América do Sul, o melhor jogador da final da Libertadores foi o ponteiro Guerrón, que barbarizou a defesa do San Lorenzo e, especialmente, a do Fluminense.

Aqui no Brasil insistimos em chamar jogadores como o equatoriano de alas. Baseado nessa idéia, o São Paulo contratou Reasco, o Grêmio contratou Bustos e o Atlético Paranaense contratou Marín, em momentos diferentes. Nenhum deles vingou, pois foram obrigados a desempenhar tarefas de marcação às quais nunca estavam preparados. Os treinadores brasileiros, via de regra, aboliram os pontas e nunca pensaram em utilizar esses jogadores como tais, pois se trata de um conceito muito “desatualizado” de futebol. Aliás, treinador brasileiro implica com pontas desde a época de Zagallo, o primeiro atacante de flanco obrigado a recuar para marcar.

Não quero aqui comparar Guerrón, Reasco, Bustos e Marín. Guerrón provou ontem que além de ser melhor que todos eles, é muito mais decisivo. A questão é que se ele fosse contratado por qualquer time do Brasil, o treinador iria obrigá-lo a marcar o lateral e cobrir o avanço do volante. Assim, ele inevitavelmente seria um fracasso. Ontem, Guerrón provou que não só existem pontas, como a função do lateral é marcá-los, não o contrário. Não interessa se Guerrón é grande, forte e sabe fazer um cerca-lourenço nos avanços dos adversários. Ele é ponta. O retranquismo que se dane.

Joffre David Guerrón Mendez nasceu em 28 de abril de 1985, em Quito. Com 16 anos, estreou como profissional no Aucas, que até pouco tempo atrás era o time mais popular de Quito. Depois de 20 partidas e 4 gols, foi comprado pelo Boca Juniors, onde só jogou nos times reservas. Em 2006, voltou ao Equador para atuar na Liga e chegou a jogar na Libertadores, entrando no segundo tempo na partida contra o Internacional em Quito.

Começou a ser titular em 2007, com o atual treinador, Edgardo Bauza. Na primeira fase, levou um baile de Júnior César, a ponto de Bauza perguntar por quê o camisa 6 do Fluminense não estava na Seleção Brasileira. Ontem, foi a hora da vingança. Guerrón tem 1,80, peso médio de 74 quilos e está vendido para o Getafe, da Espanha, por 4 milhões de euros.

Foto: Fernando Galarraga/AP

Já foi um lateral ruim e sabe como é,
Luís Felipe dos Santos.